Baleizão, uma pequena aldeia no coração do Baixo-Alentejo, tornou-se emblemática durante o período do Estado Novo em Portugal devido ao acontecimento em torno da morte de Catarina Eufémia. Esta mulher, trabalhadora rural, tornou-se símbolo de resistência e luta contra as injustiças do sistema.
Durante esse tempo, o Partido Comunista Português desempenhou um papel significativo na mobilização das massas trabalhadoras. Depois do 25 de abril de 1974, o PCP ganhou uma influência considerável, especialmente no Alentejo, uma região historicamente associada à luta agrária e à exploração dos trabalhadores rurais. No entanto, com essa influência, vieram também os excessos e abusos por parte do partido, na altura, liderado por Álvaro Cunhal.
António Henriques Palminha, socialista convicto e seguidor de Mário Soares, tem 72 anos. Nasceu em Baleizão e por lá fez a sua vida. Durante o serviço militar foi destacado para Angola. Soldado com a especialidade de mecânico. Encontrava-se na cidade de Serpa Pinto, na região sul da antiga colónia portuguesa, quando soube da Revolução dos Cravos. “Só em Agosto de 1975 é que me deixaram vir para Portugal. Foi um ano e quatro meses de muita impaciência”, recorda.

Principalmente no Alentejo, o pós 25 de Abril de 1974 foi bastante marcado por uma polarização política intensa, onde aqueles que não estavam alinhados com o Partido Comunista muitas vezes eram marginalizados ou até mesmo perseguidos. A narrativa predominante retratava os não-comunistas como fascistas, criando um ambiente de desconfiança e divisão na comunidade.
“Foi bom regressar à minha terra já em democracia”, afirma, convicto, António Palminha. No entanto, o mecânico também viu com tristeza a “balburdia” que estava a acontecer, não só em Baleizão, mas um pouco por toda a região. “Toda a gente queria ocupar tudo: herdades, pequenas propriedades, oficinas, tudo. Nessa altura, eu já trabalhava numa oficina, em Beja, quando me convidaram para ocupar essa mesma empresa. Disse-lhes que o homem (o patrão) paga-nos acima da lei, portanto a gente não pode ocupar isto”, lembra, com alguma desilusão. A oficina foi ocupada. António Palminha, não concordando com a decisão, acabou por sair. Mais tarde, a ocupação resultou no fecho da empresa.
A repressão política no Alentejo após o 25 de Abril
A realidade foi complicada para aqueles que se opuseram a essa dinâmica. Passaram a enfrentar grandes desafios. A luta pela liberdade de expressão tornou-se uma batalha constante para muitos que se recusaram a ser silenciados ou marginalizados “pelos tentáculos do Partido Comunista”.
O PCP implementou um clima de repressão política no Alentejo, onde aqueles que não compartilhavam das ideias do partido eram discriminados ou até mesmo perseguidos. Isso incluía não apenas proprietários de terras, mas também outros partidos políticos e pessoas que discordavam das políticas do PCP. Foi o caso de António Palminha.
Sem trabalho, o mecânico decidiu abrir uma oficina na sua terra.
“Na altura, os agricultores aqui na zona de Baleizão davam-me muito trabalho. Entretanto, o pessoal da Reforma Agrária veio ter comigo com uma proposta: davam-me todo o trabalho, mas eu tinha que deixar de fazer serviços para os agricultores”. António Palminha não aceitou e esclareceu “da porta da oficina para dentro não há política”. Justificando que “aqui são todos clientes”.