António Sebastião: Situação económica, social e política

Estamos a viver uma situação diferente da que vivemos nos últimos anos. Situação diferente do ponto de vista económico e social e do ponto de vista político. Económica e social tendo em atenção o aumento dos preços, a escassez de alguns produtos e a possibilidade bem real do aumento das taxas de juro com tudo o que estas situações representam para as empresas e famílias. Do ponto de vista político tendo em conta a composição da AR e o consequente resultado num Governo de maioria absoluta.

Esta situação resulta das consequências herdadas da pandemia, que ainda não está totalmente resolvida, de uma guerra na Europa, há pouco tempo impensável para a maioria dos cidadãos europeus, mas que está a acontecer e não se sabe quando terminará e também das opções políticas que foram tomadas nos últimos seis anos pelo governo minoritário do PS apoiado no parlamento pelo BE e PCP.

A pandemia trouxe problemas graves no funcionamento da economia global, que começaram a ser notadas pelas roturas que começaram a aparecer no fornecimento regular de diferentes produtos, situação que foi agravada por tudo o que está a acontecer na Ucrânia, e que, para além do drama social a que estamos a assistir e que responsavelmente temos de ajudar a dar uma resposta, também nos setores energético e alimentar, fomos colocados perante realidades diferentes que exigem politicas diferentes e adequadas. O nosso país, nestes últimos seis anos, tem vindo a ser ultrapassado nos índices de desenvolvimento e rendimento per capita, por um conjunto de países oriundos do bloco de leste, que entraram mais tarde para a EU e que através de opções políticas mais corretas têm crescido muito mais do que nós e por consequência, o rendimento e bem-estar das suas populações também tem aumentado mais.

Agravando mais esta situação, é que, apesar de termos crescimentos da nossa economia bastante abaixo do que deveria acontecer, fruto das tais opções políticas erradas, também não fomos capazes de baixar a nossa divida global que continua a ser das mais altas do mundo desenvolvido.

É perante este cenário, complexo, que temos de encontrar as respostas adequadas e corretas: uma inflação elevada que já está a comer o rendimento das famílias, constituindo um verdadeiro imposto, a ameaça do crescimento das taxas de juro que ao subirem serão um garrote para o investimento tanto ao nível do governo, como das empresas e das famílias e a necessidade da nossa economia crescer para não ficarmos cada vez mais na cauda da Europa, com o correspondente aumento de rendimentos e bem estar social, justo e equilibrado, para todos nós.

As condições políticas ao nível da governação (maioria absoluta) existem. Mas será que existe a coragem para implementar as medidas adequadas e de estrutura que são necessárias? Olhando para o passado recente, ficamos com muitas dúvidas, como muito bem disse Cavaco Silva, num artigo muito objetivo, lúcido e claro que recentemente publicou.

Nós não podemos continuar a ter políticas de curto prazo, satisfazendo clientelas e lobbies, temos de olhar para quem produz, para as nossas empresas que criam riqueza e emprego, temos de ser mais competitivos e para isso temos de ter mais e melhor formação, melhor política fiscal, uma justiça mais rápida e mais justa, uma administração publica menos pesada e menos burocrática, combate permanente ao clientelismo, ao compadrio e à corrupção.

Estas e outras políticas de fundo deveriam ser uma prioridade para uma ampla maioria da nossa classe política.

Esta proposta de orçamento, apresentada na AR, que vai ter a sua votação na generalidade nos próximos dias 28 e 29 e votação final global no dia 29 de maio, com aprovação garantida, parece-nos muito tímida e sem arrojo necessário para responder aos desafios que Portugal e os portugueses necessitam.

Esperemos que o PSD, como grande partido nacional e alternativo, regresse rapidamente ao seu verdadeiro caminho e possa dar um contributo muito importante para encontrarmos soluções que nos tragam a esperança de melhores dias para todos nós. 

António Sebastião

Vereador do PSD na Câmara Municipal de Almodôvar