A Câmara Municipal de Ourique e a Associação de Criadores do Porco Alentejano (ACPA) continuam fiéis à tradição. Mais uma vez o mundo rural está representado na centenária Feira de Garvão, onde decorre a XXI Exposição Agro-Pecuária. O evento ultrapassou há muito as fronteiras do concelho para se tornar uma referência no sul de Portugal. São milhares as pessoas, de todo o país, que visitam esta simpática aldeia no segundo fim-de-semana do mês de Maio.
Em entrevista ao “Pax Jornal”, Pedro do Carmo, presidente da Câmara Municipal de Ourique, fala da importância desta iniciativa para estimular a ruralidade no concelho.
Quais são as expectativas para esta edição da Feira de Garvão/XXI Exposição Agro-Pecuária?
Estamos a preparar mais uma edição da Feira de Garvão com a ambição de suplantar a anterior. O nosso objectivo é sempre fazer mais e melhor! Ao longo dos anos temos investido neste evento com várias preocupações: preservar a tradição, promover o mundo rural e qualificar as características da feira, que é secular e que espelha o que no interior se faz de melhor. Por isso investimos na requalificação do espaço apetrechando-o com equipamentos e infra-estruturas capazes de acolher os mais de 35 mil visitantes e os expositores que engrandecem a Feira. Por isso temos vindo a reforçar ano após ano o programa com iniciativas diversas.
Que importância tem esta feira para o concelho?
Esta é uma feira antiga, com história e tradição de encontros e de negócios, que estimula novas oportunidades. É uma feira de agricultura no sentido mais natural do conceito, de terra e pó, com centenas de cabeças de gado em exposição. E na sua génese, que preservamos, tem um impacto muito forte na economia rural, sobretudo ao nível da microprodução, que em muitos casos são factores de subsistência económica de muitas famílias. E claro que a promoção que a feira trás para o concelho e sobretudo para a freguesia é importante e ajuda a alavancar outras oportunidades de desenvolvimento, embora estes resultados se notem a longo prazo, mas ainda assim já temos alguns bons exemplos.
Quais são as novidades para esta edição?
Como referi em todas as edições desejamos fazer mais e melhor. Na edição deste ano reorganizamos o espaço com o objectivo de projectar ainda mais o negócio dos expositores e apresentamos uma exposição pedagógica elaborada pelos alunos das escolas sobre a vaca de raça garvonesa e ainda, no domingo, um pequeno mercado de produtos locais que dará a conhecer os produtos da terra que os cidadãos produzem. E também no domingo voltamos a transmitir o programa da TVI “Somos Portugal”, que uma vez mais escolhe Garvão para mostrar ao país este evento de tradição e cultura que muito nos orgulha.
A pouco mais de dois anos de deixar a Câmara, e na impossibilidade de voltar a candidatar-se devido à limitação de mandatos, o edil mostra-se optimista em relação ao futuro de Ourique.
Está a sensivelmente dois anos e meio de deixar a câmara de Ourique. Sai com o sentimento de “missão cumprida”?
Sairei com a certeza de que não podendo fazer tudo, fiz tudo o que estava ao meu alcance poder fazer! Foram anos muito longos, com grandes dramas e dificuldades, mas olhando para trás não posso deixar de referir também os sucessos e as vitórias que alcançamos e que devolveram a Ourique prestígio, credibilidade e esperança. E também liberdade! A liberdade de escolher o nosso futuro e fazer as nossas opções sem estar subjugados a resgates financeiros e a constrangimentos de vária ordem.
Aprendi no exercício deste cargo que a “missão” nunca está cumprida, há sempre mais para fazer, há sempre novos desafios que substituem os objectivos concretizados. Mas tenho a convicção de que conseguimos até aqui fazer muito mais do que era expectável. E não me convenço por interesse próprio, são as entidades externas de supervisão e de avaliação, muitas da administração pública, que hoje o reconhecem. Ourique é agora um exemplo de gestão de dinheiros públicos, de transparência, de rigor e de redução da dívida ao mesmo tempo que continuou a fazer obra e a desenvolver projectos. Foram assim estes dez anos: a realizar, a construir, a promover com as pessoas ao nosso lado e no centro das preocupações.
É do conhecimento público que o seu primeiro mandato foi muito complicado devido à dívida avultada da autarquia. Ao longo dos três mandatos a situação financeira equilibrou-se. Está optimista com o futuro do concelho de Ourique?
Está equilibrada e controlada, mas não está ultrapassada. Sempre afirmei, alguns diziam que com exagero meu, que o peso e o encargo da divida comprometer-nos-ia durante mais de duas décadas. Ainda só passou uma década e conseguimos controlar a dívida e restituir crédito e prestigio à autarquia, mas é importante referir que ainda temos constrangimentos e compromissos com essa divida e que só se extinguirão no futuro. Ainda pagamos acordos de regularização e sessões de crédito dessa dívida e isso tem um peso significativo na tesouraria da autarquia.
Não desejo fazer a esta distância um balanço final, fá-lo-ei na altura oportuna, mas posso garantir que, olhando o futuro e sabendo que esta governação conseguiu abrir novas oportunidades e recuperar muito atraso, o futuro do concelho de Ourique é de esperança e de capacidade de realização. Já nada voltará a ser como antes. E desejo que os meus concidadãos, que também sofreram com todas dificuldades porque passamos, reconheçam que o trabalho até alcançado não pode ser hipotecado com experimentalismos e aventureirismos. Tenho a certeza que juntos saberemos encontrar rumos de progresso que dêem continuidade a este que temos vindo a realizar.