Fernanda Pereira: A espuma destes dias…

Por cá, entre tomadas de posse, mais ou menos surpreendentes, há no ar uma sensação de “leite derramado”. É o Presidente da República que, de repente, descobriu o infinito valor do silêncio, os partidos da esquerda que descobriram o valor das suas propostas e a importância do diálogo interpartidário (leia-se PCP e BE), os partidos da ala mais à direita (PSD e CDS) descobriram que a casa precisa ser arrumada, embora os respetivos mordomos tenham dúvidas da “bondade” dessa renovação. E o PS o que descobriu? Primeiro descobriu que as sondagens não valem grande coisa e que afinal os partidos fazem na Assembleia o jogo político do “As minhas propostas são sempre melhores que as tuas” até à exaustão.

Enquanto escrevo esta crónica inicia-se a Websummit (Lisboa) e a COP 26 (Glasgow). São dois eventos de importância mundial e por razões muito diferentes temos de lhes prestar a máxima atenção. 

Da Websummit podem sair ideias e empresas tão avançadas que a inteligência artificial não as alcance e da COP 26 podem sair decisões tão impactantes que todos nós tenhamos de andar “a toque de caixa” nos próximos tempos se é que queremos deixar um planeta relativamente semelhante aquele que encontrámos. 

Se, da primeira não tenho muitas dúvidas que nos pode surpreender com inovações fora da caixa, da segunda tenho receio que não queiram sair da caixa. Os países mais poluidores não deixarão de o ser só porque a Terra grita por socorro. Os seus Calcanhares de Aquilles são outros, a Produção e  a Distribuição da Riqueza soam mais alto e com notas (musicais) mais apetecíveis. O grande problema é que o paradigma da Economia Mundial há muito tempo passou a incluir a sustentabilidade, quer ambiental, quer económica e obviamente financeira. 

Está na hora de pensarmos que a reutilização dos bens tem de acontecer até ao fim da sua vida útil e que as roupas que vestimos podem ser recicladas; no fundo um conceito muito antigo “Na Natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” de Antoine-Laurent de Lavoisier. A nossa única escolha é se transformamos a nosso favor ou contra nós, pela inação…

Fernanda Pereira

Professora no IPBeja