A pergunta que dá corpo ao título da presente crónica surgiu-me após a verificação de um conjunto de situações que, apesar de discretas e aparentemente inocentes, deixam-me com a “pulga atrás da orelha”, como se diz no nosso baixo Alentejo.
Os ouvintes devem estar lembrados das palavras do António Costa, primeiro-ministro, e do Presidente da República, Marcelo Rebelo de sousa, sobre o processo de regionalização e o consequente referendo durante esta legislatura, salvo equívoco falaram no ano de 2024.
Acontece que tal tema – Regionalização – não está na ordem do dia, salvo honrosas exceções, nas conversas e pensamentos da sociedade civil do baixo Alentejo, nem aparentemente no país.
Mas tal passividade não acontece em todo o lado e temos assistido, pelo menos assim me parece, a algumas movimentações de atores regionais importantes que vão posicionando o seu pensamento no xadrez político a ideia “incontornável e indiscutível”, entre aspas, da criação de uma Região Alentejo que agregue os 3 distritos – Beja, Évora e Portalegre – a bem de um processo de regionalização pacífico e facilmente vendável ao eleitorado.
Vai neste sentido a interpretação que faço das palavras da recém empossada Reitora da Universidade de Évora quando afirma que “ O Alentejo deve ter uma única voz”, ou quando vejo posts sobre o “Parlamento Europeu está a caminho da sua Cidade”, obviamente e para os mais distraídos a cidade foi Évora, ou ainda quando o Governo põe em marcha, de forma quase anónima e pouco participada, um processo de descentralização de competências no órgão mais centralista que temos na região: a comissão de coordenação – CCDRA – novamente a bem de um processo de regionalização pacífico e facilmente vendável ao eleitorado.
Resta-me aqui afirmar que tais acontecimentos não me causam repúdio, nem inveja, é com ações e palavras dessas que se vai afirmando um pensamento, o pensamento único de Évora e de muitos dos seus atores. Parabéns!
E nós, os da “pulga atrás da orelha”, o que estamos fazendo, dizendo, agindo ou pelo menos pensando?
Aguardo assim ansioso, mas esperançoso, que a temática da regionalização e da consequente criação da Região Baixo Alentejo, volte às bocas dos baixo alentejanos, sejam políticos, autarcas, dirigentes associativos, culturais ou académicos.
Apenas me permitam recordar que no único referendo realizado até hoje sobre esta matéria, a criação de regiões foi rejeitada em todo o pais, mesmo no algarve aonde se dizia inquestionável, vencendo apenas em um único distrito – BEJA – com a particularidade de também aqui, a maioria das gentes do distrito de Beja, dizer NÃO à criação da Região Alentejo.
Gavino Paixão
Advogado