Hospital de Beja com recorde negativo de nascimentos

No ano passado nasceram 992 bebés, na maternidade do Hospital José Joaquim Fernandes, em Beja. Esse número corresponde a 488 meninos e 504 meninas.

Em dezembro nasceram 72 bebés (40 meninos e 32 meninas). Em igual período de 2019, há registo de 77 nascimentos.

O número de nascimentos, no ano de 2019, foi ligeiramente superior (1072) quando comparado com 2018 (1049). Ainda assim os números tendem a diminuir desde 1990, quando se verificou 1433 nascimentos.

Em 2020, houve uma quebra no número de nascimentos em Portugal. No Alentejo, segundo a demografa Maria Filomena Mendes, “havia até ao mês de outubro, inclusive, um ligeiro aumento de 15 nascimentos”. Porém “é preciso ter cuidado com estes valores, porque as estatísticas do registo civil, são constantemente alteradas”. Essa alteração “é sempre para mais” nascimentos e “nunca para menos”.

“Até outubro de 2020, no Alentejo não tínhamos tido uma quebra no número de nascimentos comparativamente com 2019 e com o que passou no país, onde de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE) houve uma redução de 2218 nascimentos. Contudo, os últimos meses ainda poderão ser sujeitos a uma correção”.

“Até outubro”, explica, “as crianças que nasceram já tinham sido concebidas antes ou no início da pandemia, quando ainda se pensava que o que estava a acontecer não teria um efeito tão dramático”.

“Contrariamente ao país, o Alentejo- em geral- aparentava ter alguma estabilidade no número de nascimentos, mas o Baixo Alentejo e o Alentejo Central já “mostravam uma diminuição face a 2019”.

Este ano, nos meses de janeiro e fevereiro, embora já tenhamos um “impacto muito maior da pandemia, no que diz respeito à natalidade”, ainda não “existem dados suficientes que permitam comprovar isso”.

Mas, por si só, a pandemia não pode justificar estes números, até porque, um estudo publicado em 2016 pela Fundação Francisco Manuel dos Santos da conta do baixo número de nascimentos em Portugal. Segundo os dados obtidos, o “país apresentava um dos mais baixos níveis de fecundidade da Europa e do mundo: o número médio de filhos por mulher, designado por Índice Sintético de Fecundidade, registado em 2013 e em 2014, foi na ordem dos 1,2”.

“Associado ao facto de globalmente os indivíduos terem menos filhos em média está uma alteração do calendário: o adiamento da maternidade e da paternidade. A idade média com que as mães têm os filhos é atualmente de 31,5 anos”.

O mesmo estudo coordenado por Maria Filomena Mendes refere que “do ponto de vista demográfico, o contínuo declínio da fecundidade compromete a dinâmica populacional, na medida em que o número de nascimentos deixa de compensar o número de óbitos (saldo natural). Esta redução da natalidade provoca ainda uma diminuição do efetivo de jovens, posteriormente, de mulheres em idade reprodutivas.

O sonho de ser pais é consecutivamente adiado, tendo em conta o “prolongamento dos estudos e o intenso envolvimento numa carreira profissional: o próprio nível de escolaridade das mães (acima do primeiro ciclo do ensino básico) parece constituir-se como um fator potenciador para os indivíduos não terem transitado para a parentalidade”. Outra hipótese, é “o entendimento de que a conciliação trabalho-família passa pelo trabalho da mãe a tempo inteiro ou a tempo parcial”.  

Em suma, “a idade, a participação no mercado de trabalho, a existência de separação dos pais, o adiamento da saída da casa dos pais e os valores relativos à família e aos filhos” são fatores determinantes na hora de decidir ou não avançar para a constituição da família.