Como canta Sérgio Godinho, todos temos glórias, terrores e aventuras e, felizmente, também tenho os meus, dos quais não abdico. Pessoalmente, a par da paixão pelos livros e pelo Direito [e outras que resguardo para a minha intimidade] desde que tenho consciência do meu Eu que sou apaixonado pela Política [que escrevo com maiúsculas, num sentido cunhado pelos gregos clássicos, porque nunca a confundo com a politiquice].
Entendo a Política como a mais nobre das atividades humanas, como um ato de altruísmo daqueles que não se resignam às íntimas idiossincrasias e interesses mesquinhos, mas ousam pensar a Pólis e lutar pelos interesses dos seus concidadãos, muitas vezes com enorme prejuízo pessoal.
E, quem lê os disparates que quase incessantemente escrevi ao longo dos últimos vinte e cinco anos reconhecem que nunca caí na falácia, reiteradamente repetida, que os políticos são todos iguais e que apenas se movem por mesquinhas ambições. Nestas décadas de cidadania ativa (ainda que mitigadamente ativa na última década), conheci homens e mulheres genuinamente comprometidos com a causa pública e que, com erros e acertos, deram o melhor de si por aquilo que acreditam ser o melhor para as suas comunidades. Mesmo aqueles cuja ideias e ideais combati, e combaterei sempre, porque me parecem errados os perversos. Mas com respeito; terei na minha juventude cometido os meus excessos dada a imaturidade, mas sempre entendi que é possível discordar sem caluniar ou amesquinhar.
E, se também a mim me preocupa uma diminuição da qualidade dos quadros políticos (regionais, nacionais e internacionais), reiteradamente deixei escrito que muitos dos políticos vilipendiados pela crítica são insofismavelmente melhores do que aqueles que os criticam, vulgo, os sábios das redes sociais que nunca na sua patética existência tiveram uma única preocupação com a coisa pública, mas que são exímios na calúnia e na ofensa gratuita.
Serve este longo e absurdo introito para expressar uma única ideia: entristece-me o método como foram elaboradas as listas para as absurdas legislativas de janeiro (que repetem critérios de eleições anteriores), mormente nos maiores partidos, que, mais uma vez, subjugaram as vozes da região em prol de uma visão centralista. Sem personalizar, até porque tenho cordiais relações de estima com várias das pessoas envolvidas no processo e nem sequer tenho uma forte convicção de quem reuniria as melhores condições, mas porque na política a forma também conta. Obviamente que se algo assim se passasse comigo eu me demitiria de imediato. Mas, isso sou eu e é consabido que sou um tipo com mau feitio…
Hugo Lança
Professor Adjunto IPBeja