Declaração de interesses: completo no final deste mês de Novembro, 38 anos de militância no PSD, não desempenho qualquer cargo nas estruturas directivas do partido e nunca tive cargos públicos ou privados por ser detentor do cartão de militante.
Ao longo destes 38 anos tenho assistido à entrada e saída de presidentes do PSD e tenho visto chegar e partir muitos militantes. Participei em incontáveis campanhas eleitorais pelo que assisti a inúmeras vitórias e também a algumas derrotas, algumas delas humilhantes.
Tenho-me mantido como militante de base, muitas vezes crítico das diversas lideranças, outras vezes mais apaziguado, mas sempre fui um militante inquieto.
Ao longo dos últimos anos tenho notado que o PSD – os seus militantes e simpatizantes, se remete a um estranho e preocupante silêncio.
No caso de Beja, distrito e concelho, o panorama é desolador. Recordo, tão só, dois factos dos quais poderemos tirar diversas ilações e avaliar quem terão sido os coveiros e cangalheiros do PSD em Beja. Sempre com o silêncio e beneplácito de muitas estruturas directivas e com um estranho desinteresse por parte da grande maioria dos militantes.
Vamos aos factos: em 2005, José Raúl dos Santos, homem de Ourique mas sem apoio eleitoral no Distrito de Beja, concorre e é eleito nas legislativas desse ano como deputado pelo círculo eleitoral do Porto. Sim, do Porto, como se a Invicta estivesse mesmo aqui ao lado. Mandava então no PSD um senhor chamado Pedro Santana Lopes. Era a retribuição da amizade existente entre os dois e da lealdade de Raul dos Santos a Santana Lopes. Obviamente que, aqui por Beja, se instalou um desconforto entre os militantes. Desconforto esse atenuado com um razoável resultado para as autárquicas, com a manutenção de uma presidência de Câmara (Almodôvar), de um vereador para a Câmara de Beja, concelho onde a Freguesia de S. João Baptista tem presidência social-democrata. Mas Ourique, a terra de José Raul, perde a presidência da Câmara para o Partido Socialista.
O PSD teria então, a nível autárquico distrital, mais de 10 mil votantes. Mas adivinhava-se o atestado de óbito assinado por Raul dos Santos. Militantes e eleitores começaram a ver que o PSD encetara o caminho da descredibilização. Nas eleições legislativas e autárquicas que ao longo do tempo se seguirão, a linha descendente de votantes no PSD vai aumentando, temendo-se que o PSD passe a ser um partido residual a nível distrital. Em 2011 Carlos Moedas é eleito deputado mas abandona o Parlamento para integrar o governo. Quem é o senhor que se segue? Mário Simões que , assim, ascende a deputado sem que o distrito lhe tenha dado voto de confiança para tal. A nível autárquico, o PSD fica em 2009 abaixo da fasquia dos 10 mil votos e em 2013 serão pouco mais de cinco mil eleitores a dar o seu voto ao PSD. Se Raúl dos Santos havia passado a certidão de óbito, estava encontrado o cangalheiro. Mário Simões perde presidências de Câmara, perde Juntas de Freguesia, e em 2015 é humilhado por Passos Coelho, que não aceita o seu nome para cabeça de lista às legislativas. Não soube ser humilde e perceber que o distrito não o queria. Em seu lugar vem uma desconhecida. É eleita mas o PSD está ferido de morte. Falta fazer o enterro do partido laranja. Tudo isto perante um silêncio ensurdecedor quer por parte de militantes quer pela própria comunicação social, tão expedita e habilidosa em habitualmente identificar culpados para as desgraças. Nesta situação, como em tantas outras, o que não é noticiado ou falado, não existe.
Chegámos a 2017 e a distrital de Beja passa a ser comandada pelos herdeiros de Santos e Simões. Almodôvar é o exemplo consumado da morte do PSD no distrito de Beja. O Presidente da Distrital, que se candidatou apresentando-se como unificador do Partido, fracciona-o ainda mais. Ignora as decisões da concelhia de Almodôvar e reforça a divisão. Diríamos que João Guerreiro jogou a terra para cima do cadáver. O PSD de Beja rondará, actualmente, cerca de 5 mil eleitores a nível distrital autárquico. No concelho de Beja há muito que descemos a fasquia dos 1.000 eleitores para a presidência da Câmara. E ninguém assume responsabilidades. É óbvio. Perante o perturbante silêncio de eleitores, simpatizantes e dos órgãos de comunicação social (a excepção foi um comunicado da JSD de Beja que, pela linguagem utilizada, se percebeu defender outros interesses que não os do PSD), perante este silêncio, dizia eu, obviamente que os dirigentes locais não se sentem na obrigação de prestar contas.
O PSD já entrou em campanha para as directas de 2018. E já se conhece de que lado estão os coveiros locais.
No passado Domingo Pedro Santana Lopes esteve em Beja a jantar num restaurante, onde à frente, na sala de cinema, havia passado horas antes, o filme infantil “O pequeno vampiro”. Conhecido como “enfant terrible”, desconheço que sangue novo possa trazer ao PSD no distrito. Se é para unir o Partido, estamos conversados.
João Espinho
Militante do PSD Beja