João Paulo Ramôa: Duelo a dois.

Uma vez resolvida democraticamente a questão da liderança do PSD, o foco político nacional, transferir-se-á rapidamente para as eleições de 30 de Janeiro, após ter passado esta euforia interna social-democrata dos vencedores, e algum lamber das feridas dos vencidos.

O País precisa de reformas profunda e em vários sectores; na saúde, na justiça, na política, na desburocratização, nos impostos, e até mesmo no ensino. Infelizmente fomos brindados com um deserto de reformas durante os últimos 6 anos. E num Mundo em rápida mudança, o estaticismo é fatal, sendo um dos fatores que nos está a levar para a cauda da Europa, sem que esta inevitabilidade não pudesse ser evitável.

Mas para se poder reformar e adaptar o País às novas necessidades e realidade, é preciso que no Parlamento, nas próximas eleições, exista pelo menos ⅔ de deputados que tenham, não uma convergência total de pensamento, mas princípios ideológicos similares. E isso só se encontra nos sectores maioritários do PSD e do PS.

Para isso ajudaria e muito, um Parlamento não capturado como foi nos últimos 6 anos por uma esquerda radical, ou no futuro, um Parlamento capturado por uma direita que ainda não encontrou um espaço tranquilo de afirmação ideológica de raízes claramente democráticas. Mais do que nunca é necessária a bipolarização clara PSD-PS.

Não para depois dar lugar à formação de um Governo de bloco central. Tal é indesejável, e totalmente desnecessário. É tão importante termos um bom Governo como uma boa oposição, além de que esse tipo de arquitetura de Governo até seria prejudicial à democracia, pois todos os ovos estarem no mesmo cesto, como vulgarmente se diz, não seria bom, porque tal poder concentrado, acabaria mais tarde ou mais cedo numa arrogância destrutiva.

Rui Rio já se disponibilizou a acordos parlamentares reformistas, caso o PSD ganhe ou perca nem que seja por um voto. E António Costa, embora tendo já várias oportunidades, nunca respondeu ao repto, nem respondeu um PS, resultante de pós-Costa. Mas vai ter de responder, pois dessa não escapará, tal a importância que tais reformas terão na próxima legislatura.

Será de previsíveis consequências, se passarmos mais 4 anos sem reformas importantes, ao que, a somar aos 6 anteriores, fariam um longo período de 10 anos. Em 10 anos o Mundo muda tanto, que é impensável que será possível viver na aldeia do Asterix.

Creio que os portugueses, percebem a importância de reformar, mudar, adaptar, visionar, e creio que este tema, da capacidade de o fazer, e quem o permitirá, mais do que o programa  nacional ou regional, será o fator  de decisão para  escolha política do vencedor.

Rui Rio, na sua peculiar faceta nortenha, foi direto, simples, pragmático e frontal. António Costa e o PS, cansado de namorar com a esquerda radical, lança agora um olhar trauliteiro ao PSD, embora tímido, pois sabe o quanto os sociais-democratas tem na memória, o que ele foi dizendo nos últimos anos. E esta exitação, vindo do beco onde se deixou acantonar, na minha opinião, ser-lhe-á fatal, no juízo dos portugueses.

João Paulo Ramôa

Engenheiro Civil