A recente tragédia ocorrida no Centro Histórico de Mértola, cuja eventual responsabilidade da autarquia ainda está por apurar, veio pôr a nú o estado de alerta de perigo a que chegou, fruto do lamentável abandono a que foi votado nos três últimos mandatos autárquicos.
Ao longo desse período todos os alertas e apelos à Câmara para a necessidade de dar continuidade à estratégia e ao programa de investimento para a reabilitação e a regeneração da Vila Velha, indispensáveis não só à sua preservação como também à sua valorização e revitalização, foram sempre ignorados, tendo, inclusive, sido abandonados projectos como a subvenção de apoio à obras particulares, a aquisição e recuperação de imóveis para arrendamento apoiado, a renovação das infraestruturas básicas e, mais grave, a reparação dos troços da muralha em risco, identificados num estudo encomendado no anterior mandato. Um desses troços, dado o avançado estado de degradação teve que ser intervencionado por um particular em colaboração com a DRCAL, já que a câmara se recusou a apoiar a obra.
Também o retomar do processo de classificação como património da humanidade pela Unesco que obrigaria, obviamente, a uma intervenção profunda no Centro Histórico, foi mais uma vez abandonado, perdendo-se, certamente, todo o trabalho realizado anteriormente por uma vasta equipa.
O último mandato terminou com um superavit de 10 milhões de euros e o orçamento deste ano ronda os 27 milhões, pelo que não foi e não é por falta de recursos financeiros que o Centro Histórico está num tal estado que até o festival islâmico teve que ser cancelado.
Porque razão se despreza assim a mais valiosa jóia do património de Mértola e se desvaloriza este activo fundamental para o desenvolvimento turístico do concelho ?
Jorge Pulido Valente
Técnico Superior na CM de Mértola na área do Planeamento e Desenvolvimento
