Luís D’Argent: Amizades improváveis

Cumprimentar como sempre os ouvintes e colaboradores da Rádio PAX, nestes tempos difíceis mas sempre admiráveis que nos foram dados viver.

E sempre admirável é nestes tempos aperceber-nos das cumplicidades que se criam entre inimigos de sempre, gente que nunca se pode entender sobre nada encontrou um finalmente um interesse comum, a Rússia de Putin. É enternecedor ver os extremos à esquerda e à direita de mãos dadas na defesa incondicional de um ditador de pacotilha, que a esquerda e a direita mais extrema aceitam, com todas as suas contradições, seja na sua homofobia, seja na censura declarada que prende gente com um cartaz em branco, seja no financiamento de opostos ou até na promoção de um nacionalismo doentio e de tons imperialistas que quer uma Eurásia de Lisboa a Vladivostok. É verdadeiramente notável juntar entre os seus apaniguados Jerónimo de Sousa com Silvio Berlusconi, Jair Bolsonaro com Nicolas Maduro, Miguel Sousa Tavares com Vikctor  Orban ou Boaventura de Sousa Santos com Marine LePen. Mais uma vez “Os bons espíritos reencontram-se!”. Mais interessante é ouvir esta tropilha dizerem-se sufocados pela opinião pública e publicada quando, se o seu ego lho concedesse, a única coisa que os sufocaria seria a sua consciência e soberba.

Ainda mais admirável, e sinal dos tempos, é a forma como gente que devia ter mais responsabilidade, para não dizer juízo, acrescenta à natural falta de informação livre do outro lado, uma censura a todas as fontes, que nos podem sempre dar uma ideiado grau de liberdade que se vive. O que esta gente desprovida de um espírito verdadeiramente livre se esquece é que não se responde à falta de liberdade ou de informação, com mais falta de liberdade e de informação, nada denuncia mais a estupidez do que deixar o estúpido falar. Se a isto acrescentarmos o boicote cultural então juntamo-nos à barbárie e entramos no jogo que devíamos combater com todas as nossas forças.

E agora para algo completamente diferente, e é bom que o seja, aí vem a OVIBEJA, a grande festa da nossa Cidade, evocando dois dos seus saudosos inventores, Manuel Castro e Brito que tanta falta faz à nossa Região pelo seu espírito reivindicativo, inconformista e agitador de consciências, e Pedro Ferro que tornou a nossa Feira num espaço em que, nas suas próprias palavras, se vive uma sã promiscuidade.

Desejo uma boa semana e uma melhor Feiraa todos os ouvintes e colaboradores da Rádio PAX, com muita Paz e Saúde.

Continuo com a convicção de que mesmo que isto passe, vai demorar muito tempo a passar…

Luis D’Argent

Engenheiro agrónomo