Não foram necessários sequer seis meses para o PS, sozinho, sem quaisquer peias ou impedimentos, mostrar a sua verdadeira natureza política: um partido teoricamente à esquerda mas que sempre mostrou, nos momentos decisivos, cair para o lado errado, promovendo políticas que assentariam a partidos ditos direita ou mesmo de extrema direita.
Perante uma crescente degradação da situação económica das famílias portuguesas, motivada pelo aumento galopante dos preços, com uma inflação que devorou rapidamente a insignificante subida dos salários e das reformas, o Governo não apenas recusa o seu aumento, uma medida essencial e decisiva para fazer face à degradação das condições de vidada população, como insiste em manter normas gravosas da legislação laboral e rejeitar as soluções avançadas pelo PCP e outros setores para combate às dificuldades nos serviços públicos, em particular no Serviço Nacional de Saúde e na defesa da escola pública.
Nos setores mais vulneráveis, particularmente os reformados, os aumentos verificados nas pensões em julho não dão a resposta necessária ao aumento de bens essenciais na alimentação, no gás, na eletricidade bem como de outros bens e serviços indispensáveis à satisfação das necessidades básicas.
Na área laboral no âmbito da pomposamente designada Agenda do trabalho Digno, foi aprovada na generalidade no inicio de julho a legislação proposta pelo Governo, apenas com os votos favoráveis do PS. Bem embrulhada em frases bonitas, como convém ainda mais para fazer passar produtos de baixa qualidade, como a resposta ‘às exigências do nosso tempo’, a ‘valorização dos jovens no mercado de trabalho’ ou ainda ‘a conciliação da vida familiar e profissional’, de trabalho digno esta agenda ostenta só o nome.
Não apresenta medidas concretas contra a precariedade laboral, mantendo o período experimental e legitimando outras formas de precariedade e, no caso dos jovens, embora afirmem o contrário o que a mesma apresenta como soluções é uma realidade de baixos salários e mais precariedade.
Estas propostas evidenciam o que verdadeiramente significa a iniciativa e intenção do Partido Socialista e a quem servem as mesmas. Basta lembrar as expressões de regozijo manifestadas pelas associações patronais com a obtenção da maioria absoluta do PS pois sabiam que essa maioria não beliscaria nenhum dos seus interesses e, pelo contrário, aprofundaria o caminho de fragilização dos direitos laborais.
A esta realidade estão e vão continuar a responder os trabalhadores com a luta, inevitavelmente.
Miguel Ramalho
Coordenador da União de freguesias de Santiago Maior e S. João Batista