Morreram mais de mil pessoas no Alentejo desde o início do ano

Morreram mais de mil pessoas no Alentejo desde o início do ano

Em janeiro de 2021 morreram no Alentejo 1321 pessoas, mais do dobro que o número de óbitos registados no ano passado (648). Isto quer dizer, que este ano, há registo de mais 673 mortes, 587 das quais em pessoas com mais de 74 anos de idade.

Os dados são do Instituto Nacional de Estatística (INE) e indicam que o Baixo Alentejo não foge à tendência e regista, também, um aumento no número de óbitos. Este ano já perderam a vida 263 pessoas com mais de 74 anos de idade. No ano passado tinham sido 130.

Tendo em conta a atual situação da pandemia da covid-19, estes números são facilmente explicáveis, uma vez que, “como se sabe, as complicações mais graves ocorrem em doentes com mais de 75 anos. Progressivamente, a gravidade tem uma relação direta com os grupos de idades mais idosos. Quanto maior é a idade, maior o risco”, explica ao “Diário do Alentejo” Francisco George, presidente da Cruz Vermelho Portuguesa e antigo diretor-geral de Saúde.

“O envelhecimento da população explica, também, em parte este fenómeno de maior mortalidade geral. Não se pode ignorar, igualmente, que as doenças crónicas agudizadas (descompensadas), se não forem tratadas rapidamente poderão precipitar o final da vida. Pelo que admite-se que o aumento da mortalidade possa refletir atrasos no tratamento dessas situações”, diz.

Conceição Margalha, presidente do conselho de administração da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba) diz não conseguir fazer, para já, “uma análise da situação, porque não tem conhecimento dos números”.

Por outro lado, Pedro Vasconcelos, presidente do conselho sub-regional de Beja da Ordem dos Médicos refere que “a pandemia teve um contributo significativo para o aumento da mortalidade no país, e o Alentejo não é exceção”.

Para a dirigente do Sindicato dos Médicos da Zona Sul, Tânia Russo, “o que verificamos é que facto há um excesso de mortalidade relativamente à média dos anos anteriores. Esse excesso é em grande parte explicado pela covid-19, mas há 20 por cento da mortalidade que não se deve à pandemia, e, portanto, em concreto no Alentejo- que foi a região onde houve uma maior moralidade com 140 óbitos por 100 mil habitantes” – existe um número de óbitos “superior a todo o território nacional”.

 Segundo a sindicalista, esta realidade está “em grande parte relacionada com o envelhecimento da população: Nós sabemos que a população no Alentejo é bastante envelhecida, mas, certamente haverão outros fatores, como as condições de vida na região, que são um pouco mais desfavorecidas. É necessário olhar para estas desigualdades territoriais e criar mecanismos que possam amenizar esta solidão e este isolamento dos idosos”.

“O facto de a população ser mais envelhecida”, diz “é necessária uma maior atenção no que diz respeito ao plano de vacinação”. Em seu entender, “é muito importante apostar na vacinação para que o plano corra bem. Será necessário haver uma boa coordenação entre os serviços de saúde e as autoridades locais para garantir que as pessoas dos grupos de risco fiquem protegidas o mais rapidamente possível”.

Outro problema que se impõe é a “disponibilidade de vacinas”: “a União Europeia deu um passo que foi muito positivo com a aquisição e distribuição coletiva por todos os estados membros, mas a indústria farmacêutica tem dado primazia ao lucro, o que é incompreensível tendo em conta a estado atual da pandemia. A indústria farmacêutica tem de ser chamada à responsabilidade, até porque a maior parte do investimento em vacinas foi um investimento público”, salienta Tânia Russo.

“É preciso”, também “ter em conta que os serviços de saúde estão em esforço. Já estavam antes da pandemia, não é uma situação nova, mas agora há uma exigência acrescida que vem sobrecarregar ainda mais os serviços”.

“No Alentejo há uma conhecida carência de médicos e enfermeiros. Essa situação precisa de ser combatida, por exemplo, através de carreiras e salários atrativos”.

Maria Filomena Mendes, demografa entende que “a pandemia ajuda a explicar o aumento do número de óbitos que se verificaram na região: temos efetivamente um número mais significativo de óbitos em idades mais avançadas, eventualmente pelo facto de o Alentejo ser constituído por uma população mais envelhecida”.

Janeiro foi um dos meses que registou o maior número de mortes no Alentejo, desde o início da pandemia. A mortalidade atingiu número dramáticos”.

“Nós já tínhamos verificado que os meses de julho e outubro de 2020 tinham registado uma maior mortalidade, quando comparados com 2019. Eventualmente estão associados ao aumento do número de óbitos provocados pela covid-19. Mas, efetivamente os meses de dezembro e janeiro foram aqueles em que houve um maior aumento de mortes, não só em termos absolutos, como também populacionais (estamos a falar do número de mortes por cada 100 mil habitantes). Por outro lado, foi um Inverno extraordinariamente rigoroso, o que potencia sempre um aumento no número de óbitos na população mais envelhecida”.

“O facto de termos uma população mais envelhecida, temos logo à partida um aumento da probabilidade de morte, porque a probabilidade de morte aumenta com a idade”, remata. 

OS LARES SÃO LOCAIS DE GRANDE RISCO DE CONTÁGIO

“No Alentejo, como em todo o país, os lares são locais de grande risco de contágio”, mas aqui há uma proporção significativa de utentes em lares, fruto do envelhecimento da população.

As palavras são de Tânia Russo, que considera que “nos lares estão pessoas com idade bastante avançada, que, como sabemos são as [idades] mais atingidas pela covid-19”.

“Nas últimas semanas de janeiro, em termos de mortalidade, a pandemia atingiu 75 por cento da população acima dos 75 anos, e, portanto, compreende-se que essas pessoas sendo mais idosas e mais debilitadas estão mais subjetiveis aos óbitos por covid-19. Por outro lado, os lares são- como qualquer outra instituição de residentes-, locais com uma grande concentração de pessoas vulneráveis e que têm de ser cuidadas, e, portanto, a transmissão é de grande amplitude. É preciso tomar medidas para evitar essa calamidade.

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