Opinião: Marcos Aguiar

QUE BASTA FOI ESTE?

Considerando o momento de pandemia, peço antecipadamente desculpa a quem esta crónica pareça despropositada, mas é importante regressar ao tema das Eleições Presidenciais, porque o Mundo não se detém perante a escuridão dos dias, pelo contrário, exige-nos ainda mais, e os desafios que se nos colocam, neste tempo, são enormes, gigantescos, às vezes, avassaladores!

Posto isto, cá vai…

Passadas algumas semanas das Eleições Presidenciais, é agora mais fácil perceber o que aconteceu…


O resultado eleitoral do André Ventura não podia ser melhor, para ele, claro. Quem disser o contrário está a “meter a cabeça na areia”.


E tenho ouvido as mais diversas avaliações e explicações para esta nova realidade política, inclusive no partido onde milito, o PS.


Muitas vezes a análise dos resultados do Ventura tem variado entre a desvalorização total do seu eleitorado (essa gente é ignorante, fascistas, os alentejanos perderam o juízo, etc, etc, etc…) e o taticismo político (nas autárquicas a coisa acomoda-se, isto é mau é para o PSD, o Ventura é um epifenómeno, o Chega é mais pequeno que o Ventura, etc. etc. etc…). É muitas vezes só isto. É demasiado arrogante e/ou fraturante!


Pois bem, após refletir sobre as razões que levaram algumas pessoas, mais ou menos próximas, amigos e ou conhecidos, a votar no Ventura, concluo que estas presidências são uma excelente oportunidade de reflexão para os partidos políticos tradicionais, em particular para o PS, que se encontra no poder. Uma oportunidade, se calhar a última, de sentir o país e mudar!

As pessoas que conheço que votaram no Ventura, que não serão muito diferentes das que o fizeram em todo o país, não são fascistas ou radicais de direita.


Apesar de eu achar que erraram ao dar o seu voto a um indivíduo sem nível político, tenho a certeza que esses votos foram, na larga maioria dos casos, manifestações de desalento, de alerta e de revolta face ao contexto, muito mais do que uma expressão de vontade de rutura com o regime democrático instituído.


As pessoas que votaram no Ventura não são radicais: são, quase todas, gente como eu, como a maioria de nós, que, à sua maneira, gritaram: basta de corrupção, basta de injustiça, basta de falta de esperança, basta de um país que está por se afirmar!


Sem complexos, ouçamos este grito e, depois, com humildade e serenamente, tenhamos a capacidade de dialogar com o meio milhão de portugueses e portuguesas que nas presidências disseram: Basta!


Até porque não há outra forma! Ou há?

Marcos Aguiar(Aljustrel)

Marcos Aguiar

Técnico Superior na Câmara Municipal de Aljustrel