Estamos a viver tempos difíceis. A crise pandémica está a arrastar consigo uma crise social. Em Portugal. Na Europa. E os agricultores são agentes da linha da frente. Não podem parar, nem podem vacilar. Têm a responsabilidade de colocar comida em cima da mesa de todos e de cada um.
Na primeira fase da pandemia, a partir de Março/Abril do ano passado, a fileira da pecuária foi deveras afetada, com reduções muito significativas nas vendas de borregos e de leitões, presuntos, enchidos, queijos, vinhos, etc. Este facto esteve diretamente relacionado com o encerramento do canal HORECA que está muito dependente das dinâmicas do sector hoteleiro e da restauração.
Um dos sectores com uma fortíssima redução de vendas é o do porco alentejano que está, em cerca de 90%, dependente do mercado espanhol. Que cancelou grande parte das encomendas.
Nesta terceira fase da pandemia, a estes mesmos problemas soma-se o resultado de deterioração das condições de vida provocadas por todo este ciclo pandémico, designadamente, aumento do desemprego. Como é que o sector agrícola pode salvaguardar a sua capacidade de se manter na linha da frente, com sustentação, com saúde empresarial?
Uma das soluções é a resiliência. Por exemplo: por causa da pandemia, a ACOS não pode fazer a 37ª Ovibeja no formato habitual, com expositores e visitantes a celebrar o encontro e a partilha, mas está a trabalhar para assinalar o evento em formato virtual, através de seminários online, apresentando e discutindo assuntos sérios da agricultura e da pecuária com investigadores, estudantes, agricultores, políticos. O 10º Concurso Internacional de Azeites Virgem Extra – Prémio CA Ovibeja, se não pode ter os mais de 40 jurados de 11 ou 12 países, terá menos jurados de menos países mas vai ser uma realidade. Já estamos a receber amostras de azeites até 19 de Março.
Por outro lado, é mais fácil minorar as dificuldades e combater as fragilidades se estivermos juntos, se soubermos trabalhar em equipa. As organizações de agricultores, como é o exemplo da ACOS, permitem a criação de escala, têm mais poder negocial para reduzir custos e aumentar margens de proveitos. O sector de comercialização animal da ACOS é disso um bom exemplo. E têm mais visibilidade e capacidade de intervir publicamente em defesa dos interesses do setor.
Neste processo de grandes dificuldades e novos desafios, não podemos esquecer os imprescindíveis apoios nacionais e comunitários para salvaguardar a vitalidade do sector agrícola. A agricultura é a base da subsistência da sociedade. Tem de ser salvaguardada a soberania alimentar. Precavendo danos maiores provenientes da pandemia. É fundamental garantir que os agricultores continuam a ter condições para produzir e levar os seus produtos à mesa de todos nós. Como têm feito até aqui: Na linha da frente!
Rui Garrido
Presidente da ACOS – Associação de Agricultores do Sul