O tique taque dos relógios no espaço museológico do Convento do Mosteirinho, em Serpa, e no polo de Évora, já teve melhores dias. Encerrados durante nove semanas, entre 17 de março e 27 maio, aquando da fase de confinamento devido à pandemia da covid-19, os dois espaços museológicos, “sem qualquer visitante ou volume de faturação”, acumularam prejuízos a rondar os 20 mil euros.
Durante esse período, o espaço foi pintado, o sistema de iluminação melhorado e uma sala do museu foi totalmente restaurada. A expectativa era que, aquando da reabertura, o fluxo turístico pudesse atenuar os prejuízos. O que não aconteceu. “Ninguém estava preparado para esta pandemia. Os prejuízos são, lamentavelmente, avultados”, diz Eugénio Tavares de Almeida, diretor e proprietário do museu, acrescentando que, apesar de tudo, os oito postos de trabalho continuam a ser mantidos. “Vamos ter de tomar algumas decisões no primeiro trimestre deste ano. Se tivermos de fazer despedimentos, a qualidade nos nossos serviços de excelência poderá estar em causa”.
Segundo Eugénio Tavares de Almeida, o museu continua a laborar, o problema é que, sem turistas, as receitas são insuficientes. “Temos os colaboradores a fazer restauros, reparações, manutenções diárias, trabalho de museografia e pesquisa. O museu até vai tendo alguma receita, mas não é a suficiente para cobrir todos os custos. Os prejuízos têm vindo a aumentar”, sublinha.
As contas são fáceis de fazer. “Em ambos os espaços, recebíamos cerca de 500 visitantes por mês, neste momento estamos a receber 30”, exemplifica Eugénio Tavares de Almeida, sublinhando que estes números não incluem o público escolar, este ano reduzido a zero, nem as crianças que ainda não têm idade para pagar ingresso. Outro número: “Recebíamos, em média, 60 a 70 excursões por ano. Em 2020 foram apenas sete”.
Perante esta nova realidade, o espaço teve de se “adaptar” e “criar novas dinâmicas de promoção, divulgação e novos canais comerciais, de forma a conseguir arranjar outras fontes de receita, que não fossem as excursões e os visitantes”. Nos últimos meses, houve um reforço nas redes sociais e nas vendas ‘online’. Nos passados meses de novembro e dezembro existiu mesmo um aumento no volume de vendas, comparativamente com os meses anteriores, embora insuficiente para “salvar” o ano. Existiu também um reforço das visitas virtuais ao museu. É certo que essas visitas não geram receitas. Mas, pelo menos, “fazem com que as pessoas não se esqueçam, e que as agências de viagens e os promotores turísticos se lembrem que existe o Museu do Relógio em Serpa”.
Para já, e apesar das dificuldades, fechar portas não está nos planos dos proprietários do museu. “Isso seria uma catástrofe”, desabafa Eugénio Tavares de Almeida, sublinhando que o encerramento do museu representaria “uma ferida para a nossa sociedade local e para a região, porque estaríamos a perder mais um cartão-de-visita, que ao longo dos tempos tem atraído muitos e muitos milhares de visitantes”.
“A solução”, diz o diretor do Museu do Relógio, poderá estar em “encontrar mecenas, parceiros ou patrocinadores, para o museu”.