Rui Garrido: É preciso defender quem produz e dá vida aos campos.

Os agricultores são produtores de bens de primeira necessidade, mas são também consumidores. Quero com isto dizer que, se o seu rendimento tem vindo a decrescer com o aumento do custo das matérias-primas e dos fatores de produção, vai ressentir-se ainda mais quando, no próximo ano, um agricultor for ao supermercado enquanto consumidor. Isto porque, muitos dos preços dos produtos vão aumentar. Para além dos preços dos combustíveis, da energia, vão subir também os preços dos bens alimentares. Na sua generalidade. A este ciclo vicioso, acrescenta-se a seca que está a prejudicar todos os agricultores não beneficiários de regadio. Já deitaram por terra, sementes para cereais de consumo humano e forragens para alimentação pecuária, custos de mão-de-obra, combustível, adubos. Investimento que não medra por falta de água e de humidade no solo. Mesmo depois das últimas chuvas que foram muito insuficientes para o que seria necessário.

Este é um cenário preocupante, se atendermos à problemática das alterações climáticas. É importante que os agricultores não sejam deixados sozinhos à sua sorte. Recentemente foi aprovada, pelo Parlamento Europeu, a Reforma da Política Agrícola Comum. Baseada no acordo alcançado com a presidência portuguesa do Conselho, em Junho último. Falta ainda definir os textos regulamentares base e de legislação secundária. Para os quais está a decorrer uma consulta pública alargada até ao dia 6 de Dezembro, no âmbito do Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC).

Para salvaguardar alguns dos mais importantes instrumentos de apoio à efetiva atividade agrícola, é importante que os agricultores se unam na defesa dos seus interesses e da sustentabilidade da vida no campo. Mas também que os consumidores saibam distinguir o trigo do joio e olhem para os agricultores e para a atividade agrícola como o setor primário que é a base da subsistência da Humanidade. São necessárias políticas públicas que defendam e valorizem quem produz e quem dá vida ao campo e à sua biodiversidade. É necessário que todos tenhamos consciência disso.

Rui Garrido

Presidente da ACOS – Associação de Agricultores do Sul