Um século antes de Afonso Henriques ter tornado independente o Condado Portucalense e assim fundado Portugal,nasceu em Beja, no ano de 1040,um árabe que ficou conhecido sob o nome de Al-Mutamid
Al-Mutamid viveu numa época em que os reinos cristãos já ocupavam metade da Península Ibérica e empurravam cada vez mais os muçulmanos para o sul. Estes, por sua vez, além de combaterem os cristãos, digladiavam-se em guerras fratricidas entre as diversas taifas em que se tinham dividido. As taifas eram reinos e Al-Mutamid era filho do rei de uma das mais poderosas, a de Sevilha. Com a morte do pai, Al-Mutamid acedeu ao poder dessa taifa, que se estendia do Sul do actual Portugal, até Gibraltar, Córdova e Múrcia.
Al-Mutamid reinou duas dezenas de anos, mas acabou por ser derrotado por uns aliados, os berberes almorávidas, vindos de África, que chamara para o ajudar a combater o cadavez mais ameaçador rei Afonso VI de Castela. Prisioneiro dos almorávidas, foi exilado para Aghmat, perto de Marraquexe, onde morreu passados poucos anos, em 1095, com a idade de cinquenta e cinco anos.
Esta brevíssima biografia não o tornaria particularmente notável, não tivesse sido Al-Mutamid um dos mais brilhantes poetas em língua árabe, não só do século e do Al-Andalus em que viveu, mas de toda a literatura árabe. Não é por acaso que há inúmeros eventos de natureza cultural que têm Al-Mutamid como seu patrono.
Há poucas semanas tive ocasião de realizar um desejo antigo: visitar o mausoléu de Al-Mutamid em Aghmat. Fi-lo juntamente com um grupo de amigos, entre os quais alguns alentejanos. O seu mausoléu, no interior do qual se encontra o seu túmulo, o da sua mulher e o de um dos seus filhos, é visitado todos os anos por milhares de pessoas, que tal como nós lhe vão assim prestar homenagem.
A cidade de Beja deu o seu nome a uma rua, já lá vão alguns anos. É pouco para lembrar a memória de quem aqui nasceu e cujos versos continuam a encantar quem oslê ou escuta. Al-Mutamid é mais venerado fora de Beja que aqui. Uma cidade só é grande se souber acarinhar os que foram ou são os seus grandes filhos. No meio de tanta feira, tanto festival e tanto evento, para quando um que perpetue o legado de Al-Mutamid e que ao mesmo tempo seja capaz de atrair a Beja muitos daqueles que também gostariam de o homenagear?