Sobre as confusões do IP8

Sobre as confusões do IP8

Antes de vos apresentar a minha opinião sobre o tão falado IP, gostaria de deixar algumas notas que pretendem esclarecer previamente do que é que estamos a tratar quando falamos do IP8.

Para começar é importante esclarecer que atualmente no país existem diversas tipologias de estradas. As Estradas Municipais (EM), que servem para ligar pequenas povoações na área geográfica concelhia e, em certos casos, estas à sede de concelho. As Estradas Regionais (ER) e nacionais (EN), que ligam normalmente povoações já de um patamar superior como sedes de concelho e outras localidades de uma abrangência distrital. Os Itinerários Complementares, também conhecidos como IC, que dizem respeito a estradas portuguesas que ligam centros de influência supra-concelhia mas infra-distrital aos centros de influência supra-distrital e podem ser autoestradas, mas são maioritariamente vias com perfil 2+1, coincidente com o de uma via rápida. E os ditos Itinerários Principais (IP), que são vias de comunicação de alta importância nacional, que servem de base para a rede rodoviária e conectam centros urbanos importantes, bem como portos, aeroportos e fronteiras. De uma forma mais simples, são as principais estradas que ligam diferentes regiões do país, com um foco em facilitar o tráfego de longa distância e conectar áreas estratégicas.

De acordo com o Plano Rodoviário Nacional, em Portugal, a tipologia das estradas encontra-se dividida em dois blocos: a Rede Fundamental e a Rede Complementar. A Rede Fundamental inclui os Itinerários Principais (IP), enquanto a Rede Complementar engloba os Itinerários Complementares (IC) e as Estradas Nacionais (EN), que podem ser designadas como Estradas Regionais (ER) e até Estradas Municipais (EM). Além disso, existem as autoestradas, que podem ser consideradas como nacionais, secundárias ou urbanas.

Após estas considerações prévias que irão ajudar a perceber melhor a que nos estamos a referir quando falamos do IP8, é importante deixar claro que este está traçado e existe, pois, a razão de se falar tanto nele não é o facto de ele não existir, como se ouve e se lê por aí nas palavras de alguns cidadãos e até de algumas individualidades com responsabilidades no concelho e no distrito. Desta forma, o que é importante esclarecer e o que tem levado a que se tenha falado tanto nele está relacionado com a definição do tipo de traçado que este deve ter, ou seja, se deve ser uma autoestrada, uma via rápida e reservada apenas a veículos automóveis ou uma simples estrada.

Posto isto, importa começar por esclarecer que quando foi previsto o seu traçado este pretendia atravessar o Baixo Alentejo de forma longitudinal, ligando Sines a Vila Verde de Ficalho, na fronteira com Espanha, cruzando-se com o IP1, ou se quisermos com a A2, na zona de Grândola Sul, permitindo assim, não só o acesso das diversas localidades do Baixo Alentejo a Sines e a Espanha, como também a todo o país através do IP1. Note-se que o IP1 é um itinerário que faz a ligação norte-sul de Portugal e liga Valença (no distrito de Viana do Castelo) a Castro Marim (no distrito de Faro) e é composto pela A3 (Valença-Porto), pela A20 (Porto-Carvalhos), pela A1 (Carvalhos-Lisboa), pela A12 (Lisboa-Palmela), pela A2 (Palmela-Tunes) e finalmente pela A22 (Tunes-Castro Marim).

Voltando ao IP8, como já referimos antes, a proposta inicial do seu traçado pretendia fazer uma ligação longitudinal que atravessasse o Baixo Alentejo através de uma única autoestrada a construir e que viria a ser designada por A26. Para isso ainda começaram a ser feitas diversas expropriações de terrenos, terraplanagens, aterros, viadutos, passagens desniveladas, etc., que ainda hoje se podem ver ao circular na EN 121 ou na EN 259. Porém, as obras para a construção do IP8 num perfil de autoestrada foram interrompidas e com elas goradas todas as espectativas dos Baixo Alentejanos no desenvolvimento que a sua construção poderia trazer para toda a região, restando apenas dessa proposta um pequeno troço entre o nó do IP1 em Grândola Sul e a rotunda da Malhada Velha, com cerca de 15 kms.

Há uns tempos foi anunciado e recentemente foi concretizado o retomar dos trabalhos no IP8 o que chegou a ser visto como uma resposta à reivindicação das populações do Baixo Alentejo no que se refere à melhoria das acessibilidades na região. Porém, este retomar da ideia de atravessar todo o Baixo Alentejo e juntar Sines a Vila Verde de Ficalho, trouxe consigo diversas alterações ao projeto inicial de construir a A26. A respeito destas, podemos destacar que acerca da ligação de Sines ao IP1, ou se quisermos à A2, de forma a poder depois ter continuidade no restante troço entre a A2 e a fronteira de Vila Verde de Ficalho, esta deixou de ser feita em Grândola Sul e passou para Grândola Norte, obrigando a que os seus utilizadores passem a ter que percorrer cerca de 15 kms na A2 e tenham que pagar o respetivo valor das portagens.

Acerca do troço da rotunda da Malhada Velha a Vila Verde de Ficalho, passando por Beja, recentemente, as obras foram retomadas e pasme-se quando afinal já não seria para dar continuidade ao que já havia sido construído, mas para requalificar as EN 121 e EN 259, colocando um novo piso, alcatroando as bermas e fazendo duas variantes, com acesso por rotundas, às localidades de Beringel e Figueira de Cavaleiros. Desta feita, e de acordo com o que está previsto, o IP8 apenas irá ter os ditos 15 kms já construídos em perfil de autoestrada entre o nó da A2 de Grândola Sul e a rotunda da Malhada Velha e outros tantos a construir no mesmo tipo de traçado entre Relvas Verdes e Roncão, facilitando o acesso a Sines, sendo o restante traçado em perfil de estrada nacional. Quanto à EN 260, que liga Beja à fronteira, essa nem sequer será alvo de qualquer intervenção.

A minha indignação foi e continua a ser enorme e é agravada quando determinadas individualidades, com poderes para poderem pressionar o Governo a retomar o projeto inicial, vêm bater palmas e regozijar-se com o que está a ser feito. Note-se que o facto de qualquer das variantes previstas nesta nova proposta estar a utilizar o espaço por onde estava previsto passar a tal dita A26 vai inviabilizar futuramente a sua construção, ou seja, não mais será construída nenhuma autoestrada que ligue o litoral alentejano, em Sines, à fronteira de Vila Verde de Ficalho e, consequentemente, a Espanha.

Ora não era isso que os Baixo Alentejanos precisavam. Na minha modesta opinião, o que fazia realmente falta era terminar o projeto inicial de construir o IP8 todo ele em perfil de autoestrada e que os autarcas dos concelhos por onde este passa, os deputados eleitos pelo distrito de Beja e também alguns representantes das forças vivas locais com capacidade negocial com o governo, principalmente os dirigentes da CIMBAL, do IPBeja, do NERBE e outras entidades públicas e privadas, se unissem e fizessem urgentemente reverter o processo e, para além da requalificação das EN 121 e EN 259, fosse construída a tão desejada autoestrada e valorizado o IP8 unindo Sines a Vila Verde de Ficalho.

PUB

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Farmácia de serviço hoje na cidade de Beja

Publicidade

Mais Lidas

1
Ourique
Incêndio fatal em Ourique: homem perde a vida aos 62 Anos
2
Ressonância
Hospital de Beja: A espera terminou, Ressonância Magnética chegou
3
Bombeiros
Polémica nos Bombeiros de Beja: Lista rejeitada responde a comunicado da direção 
Devemos acarinhar os eleitores do Chega? Não! Não podemos
Semana com ameaças, agressões e roubos em Beja
6
Odemira
Alunas de Odemira brilham em competição de ciência em Itália
7
25 de Abril
50 anos de Abril: Catarina Eufémia, um símbolo da luta antifascista
Agricultores que cortaram estrada em Serpa identificados pelas autoridades

Recomendado para si

Odemira
02/08/2025
Nova viatura reforça sapadores florestais em Odemira
Ervidel
02/08/2025
Feira de Ervidel espera milhares de visitantes este fim-de-semana
Brinches
02/08/2025
José Figueiras nas Festas de Brinches
Médicos
02/08/2025
Baixo Alentejo é das regiões com menos dentistas por habitante
Opiniâo
01/08/2025
Bloco de Esquerda, uma candidatura em cujo projeto se encontra uma ideia de cidade
01/08/2025
Serpa recebe inscrições para “Gente em Movimento”
01/08/2025
Festival FATOR anima Vila Verde de Ficalho
01/08/2025
Freddy Locks traz 20 anos de carreira às “Noites no Logradouro”