O Centro de Acolhimento de Emergência Social (CAES) de Beja, gerido pela Caritas Diocesana, vai encerrar portas no próximo dia 1 de novembro. A decisão, comunicada já à Segurança Social e à Secretária de Estado, surge depois de anos de funcionamento em condições consideradas “insuportáveis” por quem está no terreno, apurou a Rádio Pax junto de fonte ligada à instituição.
De acordo com a mesma fonte, “o CAES transformou-se num depósito de pessoas. Uma resposta social sem critérios definidos, e os que existem não são cumpridos. O prazo das 72 horas de permanência nunca foi respeitado: os utentes ficam uma, duas, três semanas…”.
O testemunho revela ainda que no espaço são colocadas crianças ao lado de adultos com problemas de dependência, idosos com mobilidade reduzida junto a pessoas com doenças mentais graves. “Com a equipa que temos, é impossível dar resposta a estas situações”, lamenta. A Rádio Pax sabe que, como há poucos funcionários, os que estão em serviço precisam fazer horas extras e cumprir turnos que nem mesmo o ACT autoriza
Outro problema identificado foi o atraso da Segurança Social nos pagamentos. Durante quatro meses, o CAES não recebeu qualquer verba, acumulando-se uma dívida próxima dos 100 mil euros. Mais tarde, foi remetido um protocolo de 2022, totalmente desajustado da realidade atual e sem qualquer atualização dos valores pagos pela Segurança Social. Esta situação motivou sucessivos alertas sobre a necessidade de rever o acordo e reforçar a equipa.
Sem resposta a estes e outros problemas, a instituição concluiu que não tinha alternativa senão encerrar. “Tentámos todos os esforços para que isto não acontecesse, mas ninguém ligou absolutamente nada”, sublinha a fonte.
A decisão implica ainda a suspensão do financiamento do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU), o que poderá obrigar à devolução de cerca de um milhão de euros destinados à reabilitação do edifício do CAES. Sem esse apoio, “o edifício corre o risco de ficar sem utilidade, uma vez que necessita de obras e não existem verbas para a sua recuperação”, alertou a mesma fonte.
O ambiente no CAES é descrito como de esgotamento. Segundo a mesma fonte, toda a equipa está à beira da exaustão e até a PSP, chamada quase diariamente para intervir em conflitos, afirma que os problemas dizem respeito à instituição e não à comunidade. “Muitos olham para o CAES como uma estrutura para marginais, só que, para esses marginais há dinheiro. Para estas pessoas, não”, lamenta.
Segundo foi possível apurar, a Segurança Social já deixou de encaminhar novos casos para o CAES de Beja, distribuindo-os por outras instituições.
A Rádio Pax aguarda a reação e respostas do senhor Diretor de Segurança Social do Centro Distrital de Beja do Instituto da Segurança Social às questões que foram colocadas pela Rádio Pax.