Numa das regiões do país com mais percentagem de casos ao nível cardiovascular, os únicos dois médicos da especialidade, que trabalham na Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (ULSBA), são cônjuges. Quando o casal tira férias, o hospital fica sem cardiologista.
Manuel (nome fictício) preferiu o anonimato por temer “represálias”.
Este doente já sofria de um bloqueio de coração de 1º grau. Em Agosto passado deslocou-se à urgência do Hospital de Beja com a pulsação muito baixa e tonturas. Nessa mesma noite diagnosticaram-lhe um bloqueio completo do coração. Foi informado da necessidade de lhe ser implantado, com urgência, um Pacemaker. “No dia seguinte disseram-me que não podiam fazer a intervenção no hospital porque ambos os cardiologistas, marido e mulher, estavam de férias”
Manuel foi enviado para o Hospital de Santa Marta onde foi feita a intervenção. Após o implante regressou a Beja. Esteve internado três dias. Garante que, ao longo dos dias de internamento, nunca foi visto por um médico da especialidade já que “o casal de cardiologistas continuava de férias”.
“Sinto-me inseguro porque tenho sérias dúvidas que um médico de clinica geral possa dar o devido acompanhamento a uma situação como a minha”, referiu à Rádio Pax.
O doente de 52 anos vive com a mulher numa aldeia perto de Beja. O casal pondera mesmo deixar o Alentejo já que o Hospital do distrito não lhe dá garantias, no caso de uma urgência, ser atendido por um cardiologista.
À Rádio Pax, a administração do hospital de Beja confirma que, na ausência dos dois médicos, por motivo de férias ou doença, os doentes são orientados para as unidades de Évora e Santa Marta (Lisboa) conforme rede de referenciação.