Entre 1 de janeiro e 15 de julho, o distrito de Beja registou 144 incêndios que consumiram mais de dois mil hectares de terreno. Os dados são do mais recente relatório do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, o ICNF.
Comparando com o mesmo período do ano passado, a área ardida quadruplicou, um aumento que preocupa e que reflete as condições excepcionais que se viveram este ano.
Fonte dos Bombeiros explicou à Rádio Pax que este crescimento significativo deve-se, sobretudo, a um ano hidrológico fora do comum. A chuva intensa fez crescer muito a matéria combustível, ou seja, os pastos e as culturas cresceram em quantidade e densidade, tornando o ambiente perfeito para a rápida propagação dos fogos.
Segundo esta mesma fonte, a maior parte dos incêndios no distrito ocorre durante a época das ceifas das cearas. Um dos fogos mais graves registou-se a 30 de junho, no concelho de Aljustrel, onde arderam cerca de 1 096 hectares. Este incêndio começou devido a uma ceifeira debulhadora em funcionamento, o que alerta para o risco acrescido dos trabalhos rurais durante esta época.
Outro factor importante são os incêndios de origem elétrica. Muitas vezes, são provocados por aves que pousam nas linhas de média tensão. Quando levantam voo, criam faíscas e incendeiam-se, ao caírem no solo, inflamam a vegetação seca, iniciando o fogo.
O distrito de Beja não está imune ao chamado incendiário, ou seja, fogos provocados por negligência ou até de forma criminosa. Estes fogos surgem, principalmente, durante a noite. Atualmente, estão em curso duas investigações por suspeitas de incêndios com mão criminosa nos concelhos de Serpa e Mértola.
Outro aspeto que agravou a situação foi o período em que o distrito esteve sem helicópteros de combate a incêndios. Esta falta de meios atrasou a intervenção inicial dos bombeiros, sobretudo durante o dia, permitindo que os fogos ganhassem maiores dimensões. Numa situação recente, como no incêndio de Canhestros, em Ferreira do Alentejo, a chegada rápida do helicóptero que está em Ourique, ajudou a controlar o fogo antes que ele se alastrasse.
De acordo com o ICNF, o distrito de Beja foi o segundo distrito do país com maior área ardida até meados de julho, um sinal claro de alerta para a necessidade urgente de reforçar meios de combate e de intensificar a sensibilização da população para a prevenção dos incêndios.