Carros velhos, câmaras ocultas e intimidação: os bastidores negros dos bombeiros de Cuba

A corporação dos Bombeiros Voluntários de Cuba continua a enfrentar uma situação considerada “alarmante e insustentável” devido ao estado crítico do seu parque automóvel. A denúncia foi feita à Rádio Pax por operacionais que, em tom de revolta, afirmam que a falta de condições coloca em risco não só a eficácia do socorro, mas também a própria vida dos bombeiros.

Recorde-se que no passado dia 14 de agosto, durante o grande incêndio que deflagrou em Vila Alva, concelho de Cuba, a Rádio Pax já tinha dado conta da grave fragilidade da corporação. Na altura, uma fonte revelava que o parque automóvel se encontra “em estado crítico, com carros velhos, a cair aos bocados”. Um dos veículos terá mais de 40 anos, quando o tempo de vida útil recomendado para estas viaturas não deveria ultrapassar os 15 anos. A maioria, segundo a mesma fonte, já ultrapassou três décadas de serviço.

Durante esse incêndio, dos três veículos de combate a fogos rurais, dois estavam avariados e o terceiro acabou por falhar no momento mais crítico. O único veículo em melhores condições é de abastecimento e, nesse dia, nem sequer estava disponível, uma vez que se encontrava destacado no distrito da Guarda, no combate a incêndios em Trancoso.

A situação agravou-se dias depois. No passado dia 20 de agosto, mais uma viatura da corporação avariou, deixando os operacionais ainda mais expostos à falta de meios. “Imagine que um destes carros tem uma avaria, como já aconteceu, numa situação de combate às chamas. O cenário pode ficar complicado…”, desabafou um bombeiro, que acusa a direção de estar a “brincar com a vida dos operacionais”.

Segundo o mesmo elemento, as missões a que os bombeiros de Cuba têm sido chamados recentemente são de elevada perigosidade, obrigando os profissionais a intervir sem o mínimo de garantias de segurança. “É uma irresponsabilidade total. Sentimos revolta e indignação perante a inconsciência do comandante, da direção e dos políticos”, afirmou.

A crise que atinge os Bombeiros Voluntários de Cuba não se resume ao estado crítico do parque automóvel. Novas denúncias, apuradas pela Rádio Pax, revelam acusações de manipulação política, práticas de vigilância interna e intimidação de operacionais, agravando o ambiente já descrito como “insuportável” dentro da corporação.

Segundo fontes internas, a associação que gere os bombeiros estará a ser controlada pelo Partido Comunista Português (PCP), através da direção. Entre os nomes apontados, surge o atual presidente da Câmara de Cuba, João Português, eleito pela CDU e que já foi presidente da direção da associação. Também Francisco Galinha, membro da direção, e o atual presidente, José Cabrita, integram o partido.

A instabilidade que marca os Bombeiros Voluntários de Cuba não é de hoje. Recorde-se que a 11 de setembro de 2024 estavam agendadas eleições para os corpos sociais da associação, mas o ato acabou por não se realizar após um protesto inédito dos “soldados da paz”.

Nessa altura, um grupo de operacionais depositou os capacetes à entrada do quartel e ameaçou suspender todos os serviços caso as eleições avançassem. Em causa, alegavam, estava a violação dos estatutos e o desrespeito pelos prazos legais. Entre as críticas levantadas constava a entrega da lista candidata apenas no próprio dia do sufrágio e a inclusão de elementos com quotas em atraso.

Jaime Cascão, na altura porta-voz dos bombeiros contestatários, afirmou na ocasião que a maioria dos nomes apresentados para os órgãos sociais eram funcionários da Câmara Municipal de Cuba. Entre eles, destacou-se o do próprio presidente da autarquia, João Português, então candidato à presidência do Conselho Fiscal da corporação. Cascão acusava João Português de tentar “manipular” as eleições e de querer manter a associação sob a “custódia” do Partido Comunista Português (PCP).

Contactado pela Rádio Pax nessa altura, João Português recusou “alimentar a polémica” e justificou as acusações com o “aproximar das eleições autárquicas de 2025”.

As tensões não se dissiparam e, segundo vários operacionais, continuam bem presentes. As mesmas fontes reiteram que o comandante da corporação, José Galinha, terá sido integrado nos bombeiros por influência direta do autarca, assumindo o papel de “olhos e ouvidos” dentro da instituição. Segundo alguns operacionais, as críticas ao comandante repetem-se: “arrogância, manipulação, falta de princípios e ameaças” são algumas das expressões usadas para descrever a sua postura, apontada como responsável pela saída de vários elementos experientes do corpo ativo nos últimos anos.

As críticas estendem-se a métodos de controlo considerados “pouco ortodoxos”. As mesmas fontes denunciam que o comandante terá instalado câmaras de vídeo com gravação de áudio em espaços comuns de trabalho, para vigiar as conversas dos bombeiros. Mais recentemente, foi colocada outra câmara no exterior, junto à zona onde os operacionais costumam fumar.

O ambiente de tensão aumentou com casos disciplinares que muitos consideram injustificados. Um exemplo apontado é o de uma bombeira que terá sido alvo de processo disciplinar apenas por ocupar uma cama de uma colega considerada “protegida do comandante”. A operacional já terá contratado apoio jurídico para contestar o processo.

Com pouco mais de vinte bombeiros no ativo, a corporação enfrenta sérias dificuldades. No entanto, muitos mantêm-se em silêncio, temendo represálias ou mesmo a perda do posto de trabalho. “Há medo dentro desta casa”, confidenciou uma das fontes.

As denúncias não ficam por aqui: segundo elementos ouvidos pela Rádio Pax, a associação “há muito que deveria ter sido alvo de uma auditoria financeira”, devido à falta de transparência na gestão.

Com este histórico de eleições contestadas, acusações de manipulação política e denúncias de intimidação, a corporação de Cuba permanece mergulhada num clima de desconfiança e divisão, que ameaça a coesão interna e fragiliza a missão essencial de servir a população.

A Rádio Pax procurou ouvir o Presidente da Direção dos Bombeiros de Cuba sobre estas matérias, mas sem sucesso.

Na passada sexta-feira, o responsável contactou a nossa redação solicitando que as questões lhe fossem remetidas por email. O pedido foi atendido e, nesse mesmo envio, foi reforçado que aguardávamos resposta até domingo, 24 de agosto.

Até ao momento, não obtivemos qualquer reação às perguntas colocadas.

Segue-se o email enviado ao Presidente da Direção:

Exmo. José Cabrita, Presidente da Direcção da Associação dos BVCuba

Na sequência da sua mensagem, estou a colocar por escrito as questões que gostaria de ver esclarecidas:

Sobre o parque automóvel e condições de segurança

Qual é o verdadeiro estado das viaturas da corporação?

Existem planos de renovação do parque automóvel? Se sim, em que prazos?

Como garante a direção que os bombeiros não correm riscos acrescidos ao utilizar veículos com décadas de serviço?

Sobre a gestão e organização interna

Alguns elementos do corpo de Bombeiros acusam a direcção de haver manipulação política dentro da Associação. Como responde a direcção às acusações?

Porque motivo, vários elementos da direção estão ligados ao PCP / CDU? Vê a direção nisso um problema de independência?

Está prevista alguma auditoria financeira? Se não, porquê?

Como reage a direção às acusações de que o comandante José Galinha foi nomeado por influência política?

Que medidas tem a direção para responder às queixas de bombeiros que alegam perseguições, intimidação e falta de princípios na liderança do comandante?

Como justifica a perda de elementos experientes do corpo ativo nos últimos anos?

Confirma a direção a instalação de câmaras de vídeo e áudio em espaços de convívio e trabalho dos bombeiros? Se sim, com que fundamento legal e com que objetivo foram instaladas essas câmaras?

Como explica os processos disciplinares que alguns bombeiros consideram injustificados, como o caso recente da bombeira suspensa por alegadamente ocupar uma cama de colega?

Aguardo pelas respostas até Domingo, 24 de Agosto. Obrigado pela disponibilidade.

Cumprimentos,

António Lúcio

Director de informação da Rádio Pax

PUB

PUB

PUB

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn

Farmácia de serviço hoje na cidade de Beja

Publicidade

Mais Lidas

1
Ourique
Incêndio fatal em Ourique: homem perde a vida aos 62 Anos
2
Ressonância
Hospital de Beja: A espera terminou, Ressonância Magnética chegou
3
Bombeiros
Polémica nos Bombeiros de Beja: Lista rejeitada responde a comunicado da direção 
Devemos acarinhar os eleitores do Chega? Não! Não podemos
Semana com ameaças, agressões e roubos em Beja
6
25 de Abril
50 anos de Abril: Catarina Eufémia, um símbolo da luta antifascista
7
Odemira
Alunas de Odemira brilham em competição de ciência em Itália
Agricultores que cortaram estrada em Serpa identificados pelas autoridades

Recomendado para si

13/12/2025
Afonso precisa de um herói: Beja e Ferreira do Alentejo mobilizam-se para encontrar dador de medula
Ginástica
13/12/2025
Ginástica Acrobática Adaptada da Cercibeja nomeada para prémio nacional
Castro Verde
13/12/2025
Magia de Natal invade Castro Verde
13/12/2025
JS realiza Congresso em Vidigueira
12/12/2025
Natal em Beja: Mercadinho de natal e muitas atividades até 06 de Janeiro de 2026 (com vídeo)
12/12/2025
Moura: imigrantes agredidos e casa incendiada durante ataque esta madrugada
12/12/2025
Beja: GNR apreende 1.500 doses de droga e detém três suspeitos de tráfico na região
12/12/2025
Câmara de Beja aumenta para 87 mil euros investimento na iluminação de Natal