Continua sem haver novidades na Santa Casa da Misericórdia de Serpa.
Apesar das reuniões realizadas no âmbito do Processo Especial de Revitalização, ainda não há qualquer decisão formal.
A situação financeira da instituição mantém-se delicada. O subsídio de Natal de 2024 e o subsídio de férias de 2025 continuam por pagar aos trabalhadores.
Estes atrasos têm gerado preocupação e estiveram na origem de uma manifestação no passado dia 28 de julho, junto ao Lar de São Francisco.
O protesto foi organizado pelo Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e Regiões Autónomas, contando com a presença de elementos do PCP e da Câmara Municipal de Serpa.
O objetivo foi denunciar os sucessivos atrasos no pagamento de direitos laborais.
Estiveram presentes cerca de 25 funcionários, num universo de 190 trabalhadores das várias valências da Santa Casa.
A direção da instituição reuniu com trabalhadores, com a Câmara de Serpa, com delegados sindicais e com o coordenador geral do sindicato, explicando que aguarda a aprovação do PER. Ainda assim, a concentração realizou-se.
Fonte da Mesa Administrativa da Misericórdia considera que estas ações “não ajudam a resolver o problema, mas sim a agravá-lo”.
A mesma fonte sublinha que a Santa Casa, com mais de 500 anos, assegura atualmente 230 utentes, alimenta 210 famílias através do Programa Pessoas e mantém as quatro tipologias da rede de cuidados continuados, sem despedir nenhum trabalhador. E deixa a questão: “Esta atitude vai fazer com que o pagamento dos subsídios seja mais rápido? Estamos a trabalhar exaustivamente para isso.”
Entre os apoiantes da concentração de 28 de julho esteve Odete Borralho, vereadora da Câmara Municipal de Serpa. A autarca não escondeu a preocupação com a situação na Santa Casa da Misericórdia.
“Estamos preocupados com os trabalhadores e com as condições do lar. Há tentativas de resolver os problemas, mas os resultados não aparecem. A Câmara tem estado disponível para apoiar e encontrar soluções”, afirmou.
A Rádio Pax questionou a Mesa Administrativa da instituição sobre que tipo de ajuda concreta tem sido dada pela autarquia. A resposta foi curta:
“Permita-me não responder… Tomara que eu tivesse resposta…”
O desastre financeiro da Santa Casa da Misericórdia de Serpa começou, sobretudo, a 14 de novembro de 2014. Foi nesse dia que ficou assinado o acordo para o regresso do Hospital de São Paulo à gestão da instituição. O documento entrou em vigor a 1 de janeiro de 2015. Na altura, a Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo tinha como administradores Margarida da Silveira, o advogado José Gaspar e o enfermeiro João Guerreiro. Os diretores clínicos eram Emília Duro e Jorge Santos.
A decisão, que visava devolver o hospital à Misericórdia, acabou por marcar o início de um período de graves dificuldades financeiras para a instituição.
A Santa Casa da Misericórdia de Serpa não tinha condições para receber a gestão do Hospital de São Paulo. O resultado foi um descalabro de gestão que arrastou a instituição para uma grave crise financeira.
Em 2023, estava prevista a entrada em funcionamento da Unidade Médico-Cirúrgica, construída numa parceria entre a Misericórdia de Serpa e a União das Misericórdias Portuguesas. Mas a parceria não avançou, e a Unidade — totalmente concluída e equipada — ficou sem qualquer atividade.
Em janeiro do ano passado, a União das Misericórdias assumiu a gestão do hospital, reabrindo o serviço de urgência, encerrado há vários meses, e colocando também a nova unidade médico-cirúrgica em funcionamento.
A previsão era ambiciosa: entre 2.500 e 3.000 cirurgias por ano. Contudo, essa meta nunca foi cumprida.
A unidade médico-cirúrgica representou um investimento de 3,7 milhões de euros e veio substituir o antigo bloco operatório, desativado em 2005.
Em dezembro de 2024, a União das Misericórdias propôs a entrada da instituição num Processo Especial de Revitalização, garantindo que retomaria mais tarde a gestão da unidade cirúrgica. Até agora, essa promessa continua por cumprir.
Basta olhar para o que tem acontecido nos últimos anos para perceber que as decisões tomadas pelas sucessivas Mesas Administrativas da Santa Casa da Misericórdia de Serpa não têm sido as mais acertadas para o futuro da instituição.
A par disso, somam-se promessas que ficaram por cumprir. Ao longo do tempo, tanto o governo central como a União das Misericórdias Portuguesas anunciaram apoios, mas, na prática, esses apoios chegaram tarde… outros, não chegaram.
Já o atual executivo PSD/CDS, segundo fontes próximas da Misericórdia, tem-se mantido praticamente indiferente à gravidade do problema, não apresentando, até ao momento, qualquer medida concreta para ajudar a encontrar uma solução.
Se a situação do Hospital de São Paulo e da Unidade Médico-Cirúrgica não for resolvida com urgência, o risco é elevado: o futuro das restantes valências da instituição pode ficar comprometido. E, com ele, estão em causa 190 postos de trabalho que dependem diretamente da atividade da Santa Casa da Misericórdia de Serpa.