O anúncio do Governo que prevê a criação de 5500 camas para as unidades de cuidados continuados não tranquilizar o presidente da Associação Nacional de Cuidados Continuados, que acusa o Governo de “não saber ao certo o número de camas em falta”.
No Alentejo está identificada a falta de, pelo menos, 90 camas de cuidados continuados integrados, segundo fonte da Administração Regional de Saúde do Alentejo (ARSA). Do total de 910 camas previstas (incluindo unidades de convalescença, de média duração e reabilitação e de longa duração e manutenção), estão preenchidas apenas 820.
A taxa de cobertura (cerca de 90 por cento) até nem parece má, mas a realidade do todo alentejano esconde diversas carências, sobretudo a nível do Baixo Alentejo. A mais gritante é a que diz respeito às unidades de convalescença.
Segundo um mapeamento efetuado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo, nesta resposta – destinada a prestar tratamento e supervisão clínica, continuada e intensiva, e para cuidados clínicos de reabilitação, na sequência de internamento hospitalar originado por situação clínica aguda – existem apenas 18 camas no Baixo Alentejo, quando seriam necessárias 45.
O problema poderia estar prestes a resolver-se com o anúncio feito pelo Governo no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, apresentado no final do mês passado, que prevê a criação de mais 5500 camas de cuidados continuados. No entanto, José Bourdain, presidente da Associação Nacional de Cuidados Continuados (ANCC), explica que o Governo “não sabe ao certo a quantidade de camas que são precisas”, não só no Baixo Alentejo como em todo o país, e “por isso é mais fácil lançar números para o ar que ninguém saiba de onde vêm”.
Em seu entender, é “fundamental” saber “à data de hoje quantas pessoas estão em hospitais, em lares de idosos, em apoio domiciliário, em unidades de cuidados continuados e quantas pessoas estão em lista de espera. Só depois dessa análise será possível obter o número exato de camas que são precisas”. O presidente da ANCC fala num “prejuízo” que é mais visível no Alentejo do que em outras regiões do país “por se tratar de um território de baixa densidade” e aponta como exemplo o “preço” das camas: “O valor [cobrado] é mais elevado [na região Alentejo] do que em Lisboa”.
As unidades de cuidados continuados enfrentam, neste momento, “graves problemas” que podem a médio longo prazo “levar” ao seu encerramento.
Os problemas prendem-se sobretudo com a falta de profissionais de saúde. Existem unidades que estão a “funcionar com menos de 50 por cento dos enfermeiros e onde alguns deles chegam a ter de fazer turnos de 24 horas para colmatar essa “falha”.
Outra questão prende-se com o “sobre-endividamento” das instituições. José Bourdain explica que “muitas das unidades de cuidados continuados” têm salários em atraso. “Basta os funcionários deixarem de trabalhar, para levar ao encerramento das unidades”.
Nesses casos, os doentes terão de ser “transferidos para os hospitais”. E, com o aumento do número de internamentos, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) “poderá vir a “colapsar”. “Os representantes dos setores sociais que também representam as unidades de cuidados continuados têm, desde o início da pandemia, reunido com a Ministra da Segurança Social. Até à data não esteve presente ninguém da área da saúde. Isso não é normal”, sublinha.
José Bourdain explica que esta situação “demonstra que o Ministério da Saúde está de costas voltadas” para estes problemas, que “não são de hoje nem de ontem”.
A pandemia “veio agravar a situação”, mas o Governo “há muito que não quer saber”, lamenta. “Desde há cinco anos para cá que as unidades de cuidados continuados foram transformadas numa espécie de hospitais baratos. E os lares de idosos foram transformados em unidades de cuidados continuados de segunda ou terceira categoria