Estala a “guerra” pela água no Mira

FOTO: CM Odemira

O perímetro de rega do Mira está a “ferro e fogo” depois do Ministério da Agricultura ter assinado um despacho que suspendeu a direção eleita da Associação de Beneficiários do Mira (ABM) e nomeou uma Comissão Administrativa.

Esta Comissão é presidida por um membro da Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR), e integra ainda um elemento da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA) e dois representantes dos beneficiários do Aproveitamento Hidroagrícola do Mira.

As divergências em torno do Plano de Contingência para Situações de Seca terão justificado a decisão do Ministério da Agricultura já que as cinco versões apresentadas pela Associação de Beneficiários foram todas reprovadas pela Direção-Geral de Agricultura.

Num extenso comunicado a que a Rádio Pax teve acesso, a direção eleita e agora suspensa diz que “as medidas tomadas ao longo dos anos, e que sempre garantiram o fornecimento de água a todos os beneficiários de forma justa, são agora postas em causa pela Ministra da Agricultura e Alimentação, Maria do Céu Antunes. Tudo para garantir o fornecimento de água aos produtores de pequenos frutos, com a justificação do volume económico destes produtos nas exportações”.

No ar paira o receio que a água deixe de chegar aos chamados “pequenos” agricultores e produtores para satisfazer as necessidades do agronegócio ligado às estufas.

Contatado pela Rádio Pax, Manuel Amaro Figueira, presidente da direção da Associação de Beneficiários do Mira agora suspensa, diz que há um “protecionismo” das grandes empresas instaladas no Mira, dado o impacto destas para o PIB-Produto Interno Bruto. 

A criação da Comissão Administrativa está a provocar um grande mal-estar junto de alguns beneficiários que não se revêm na decisão do Ministério.

A Comissão Administrativa surge poucos dias depois da direção da Associação ter decidido suspender o fornecimento a alguns beneficiários que ultrapassaram a quota atribuída para a campanha em curso. Um dos empresários que viu suspenso o fornecimento às suas estufas, no passado dia 17 de junho, integra a Comissão Administrativa que entrou em funcionamento a 23 de junho.

Para alguns beneficiários este é um sinal claro das pretensões do governo.

No entender de Manuel Amaro Figueira, a estratégia do Ministério é “favorecer a qualquer preço” as produções em estufa e “quem se meter à frente sofre as consequências”, como foi o caso da direção suspensa.

A direção suspensa já contestou a decisão do Ministério em Tribunal.

A mesma alerta que “a manter-se o atual consumo, sem precipitação abundante, não será possível o fornecimento de água a nenhuma agricultura num curto espaço de tempo”.

A Rádio Pax dirigiu várias questões ao Ministério da Agricultura sobre esta matéria. Até ao momento não obteve qualquer resposta.