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Violência doméstica: um flagelo à nossa porta (Reportagem Rádio Pax)

Estamos numa pequena aldeia do Alentejo. O mês de Setembro no início e o sol ainda abrasador. É praticamente meio-dia. O calor está abafado, quase sufocante. As poucas pessoas que ainda teimam em viver aqui, recolheram-se em casa. Um ou outro carro a passar senão as ruas desertas. O despovoamento é o grande problema do interior do país. Principalmente, no Alentejo.
Mas vamos ao que nos trouxe.
Foi nesta terra que viemos encontrar a protagonista de mais uma praga que atravessa classes sociais de norte a sul do país: a Violência Doméstica. No entanto, a história de Rosa, nome fictício, não é só mais um caso de violência doméstica. Esta senhora, de 42 anos, também foi vítima do mau funcionamento de algumas casas-abrigo e da falta de apoio de instituições que deveriam ajudar estas mulheres a reerguer-se.
Quando chegamos à porta já ela e a filha estavam à nossa espera. Não quisemos dar muito nas vistas, exercício difícil devido à dança dos olhares curiosos atrás das cortinas das janelas. Convidou-nos a entrar rapidamente: a aldeia é pequena e todos se conhecem.
Rosa é tímida. Tem dificuldade em olhar nos olhos. Ainda inibida começou por falar de um casamento falhado e depois como tentou refazer a vida com outro homem. Homem com quem viveu nove anos, a maior parte do tempo sofrendo em silêncio. “Levava empurrões e murros que me deixavam estendida no chão, nodoas negras que eu tentava tapar, ameaças de morte com uma arma e uma faca da cozinha, vivia um pesadelo constante”, recorda, com uma emoção disfarçada.
Desta relação nasceu a Margarida, agora com 8 anos. Também ela vítima violência do próprio pai. “Ainda a minha filha era bebé, também sofreu muitos maus-tratos”, garante. “Uma vez, estava ela a fazer uma birra, ele pegou no cinto… deixou-a marcada”, recorda, revoltada.
Consumida pelo sofrimento, Rosa pegou na filha e apresentou queixa às autoridades. Foram colocadas, de imediato, numa casa-abrigo, longe da residência e do agressor. Mãe e filha ficaram mais seguras, no entanto, passaram a viver outro pesadelo. “Além da fome, que nos fazem passar, chegaram-nos a dar comida estragada. Eu e a minha filha querermos um gel de banho e não ter, um medicamento e não ter. Há muitas “doutoras” – elas gostam que lhes chamem doutoras – que são agressivas, não sabem lidar com a fragilidade das utentes. Foi muito mau”, afirma.
Rosa decidiu denunciar a casa abrigo e saiu. Desesperada, sem dinheiro e sem ajuda, foi “obrigada” a voltar para o companheiro. Voltou a ser mal tratada e expulsa de casa. Um familiar acolheu-as. Ela e a menina levaram apenas a roupa que tinham no corpo.
Apesar das muitas tentativas, Rosa continua sem encontrar emprego e sem quaisquer ajudas do estado.
A nova matrícula da filha e tudo que envolve o regresso às aulas da menina teve ela que pagar com o dinheiro que não tem.
“Não tenho qualquer ajuda da Segurança Social. Já fui pedir o Rendimento Social de Inserção (RSI) e dizem-me que não tenho direito. Se eu e a minha filha não temos direito, quem terá”, questiona, revoltada. Rosa está convencida que “saiu do sistema” a partir da altura em que denunciou a casa-abrigo.
A possibilidade da menina ser institucionalizada é um cenário que a deixa preocupada. “Pode acontecer”, afirma, convicta. “Não tenho qualquer fonte de rendimento, não posso contar com a ajuda do pai da Margarida (…), digam-me como vou contrariar essa possibilidade”, desabafa, resignada.
A possibilidade do ex-companheiro lhe aparecer à porta continua a trazer-lhe medo. A ansiedade já se enraizou dentro desta mulher que teima manter-se à tona.
Enquanto o processo decorre, mãe e filha vão continuar escondidas nesta casa antiga onde existem fotografias nas paredes com histórias de outras pessoas. Aguardam que as entidades competentes as ajudem a reerguer-se e a refazer a vida. Uma vida a que têm direito.

Pormenores:
Segundo o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), os distritos de Lisboa, Porto, Setúbal, Braga, Aveiro e Faro reúnem dois terços dos cerca de 27 mil casos de violência doméstica registados em 2017. O distrito de Beja não é dos mais afectados, no entanto, é a região onde as vítimas mais insistem em sofrer em silencio e onde a população continua a defender a ideia “entre marido e mulher nunca metas a colher”.
Segundo a Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CCIG), apenas um terço dos casos de violência doméstica chega ao conhecimento das autoridades. Portanto, acreditamos que a realidade no Alentejo seja bem diferente daquela que os números ditam.
Segundo a mesma fonte, do total das investigações feitas pelas autoridades por suspeitas de violência doméstica, apenas 15% foram ou irão a julgamento. 85% dos casos foram arquivados.

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