Ruína em Beja mostra a falência moral do Estado

Durante décadas, o edifício do antigo Governo Civil de Beja foi um símbolo de respeito institucional e de valor arquitetónico. Hoje, é um esqueleto decadente, abandonado à sua sorte, a servir de cenário para um filme de terror (quem lá entra, sabe). Pior do que a degradação visível das suas estruturas é o silêncio cúmplice de quem tem responsabilidade direta na sua conservação.

O cenário é inaceitável. Estuques a cair, infiltrações que criam cascatas nos meses das chuvas, paredes que se desfazem com um simples toque e um chão em colapso iminente no salão nobre, onde há não muito tempo se realizavam reuniões da Assembleia Municipal. Apesar do estado avançado de degradação, o edifício continua a albergar vários serviços do Estado, como a PSP, AIMA, IMT, Finanças e Proteção Civil. Diariamente, funcionários são obrigados a exercer as suas funções num ambiente insalubre e potencialmente perigoso, enfrentando riscos reais para a sua segurança. Para além das questões estruturais, é legítimo questionar a motivação de quem trabalha num local escuro, degradado e abandonado, onde o abandono se sente em cada parede a desfazer-se.

O que falhou? Tudo. A gestão patrimonial do Estado tem-se mostrado absolutamente incapaz de preservar este edifício, cuja responsabilidade cabe à ESTAMO — Participações Imobiliárias, S.A., uma empresa pública que parece ter-se demitido das suas obrigações. A resposta da ESTAMO a todos os alertas é invariavelmente a mesma: “cada entidade é responsável pelo seu espaço”. Como se a podridão que mina o telhado, os algerozes entupidos ou os riscos estruturais graves pudessem ser resolvidos com uma simples demão de tinta em cada sala.

Não se trata de pequenos arranjos ou de pintar fachadas. Estamos perante problemas estruturais graves que colocam em risco vidas e comprometem o funcionamento de serviços públicos essenciais. O que impede a ESTAMO de agir? Desinteresse? Incompetência? Falta de orçamento? Seja qual for a razão, nenhuma justifica a negligência crónica a que temos assistido.

Mais grave ainda é o silêncio ensurdecedor. A Rádio Pax enviou perguntas formais à ESTAMO. Nada. Nem uma resposta. Nem sequer uma tentativa de explicar, justificar ou sinalizar uma intenção de intervir. A omissão é total. E trata-se de um edifício do Estado, gerido por uma empresa do Estado, que ignora perguntas feitas por um órgão de comunicação social local. O desprezo não é só pelo edifício, é pela cidade, pelos trabalhadores, pelos cidadãos e pela democracia local.

A Assembleia Municipal de Beja já pondera denunciar o contrato com a ESTAMO. Uma medida compreensível, mas que não resolve o problema. A responsabilidade não pode continuar a ser empurrada entre entidades enquanto o edifício se desfaz. O património público não é descartável. E a segurança das pessoas não pode estar à mercê de jogos burocráticos ou estratégias de desresponsabilização.

A pergunta é inevitável: o que mais será preciso acontecer para que alguém intervenha? Vamos mesmo esperar por uma tragédia anunciada para depois abrir um inquérito e exigir responsabilidades?

O edifício do antigo Governo Civil de Beja é hoje o espelho de um Estado ausente, incapaz de cuidar do que é seu e de quem o serve. A decadência deste edifício não é apenas material, é também moral. E é tempo de exigir respostas, ação e responsabilidade. Antes que seja tarde demais.

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Farmácia de serviço hoje na cidade de Beja

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