Beja e o IP8: 20 anos de promessas, poucos quilómetros de verdade

Em entrevista à Rádio Pax, o ex-diretor de Estradas de Beja, no organismo Estradas de Portugal, fala do IP8, das promessas esquecidas, das obras em curso e da urgência de lutar pela coesão territorial do Alentejo.

Luís Melo, engenheiro civil, ex-diretor de Estradas de Beja e uma das vozes técnicas que, há mais de duas décadas, apresentou publicamente o projeto de uma autoestrada que ligasse Sines à fronteira espanhola, passando por Beja.

Foi em 2003, no NERBE, a convite da Associação de Municípios do Baixo Alentejo, que Luís Melo revelou à região o plano para o IP8 em perfil de autoestrada. Hoje, passados mais de 20 anos, as obras voltaram ao terreno mas o engenheiro olha para elas com uma certa desilusão e uma dose saudável de ceticismo.

“Na altura, a apresentação do projeto da autoestrada no IP8 foi um momento importante. Havia esperança, vontade política e até algum entusiasmo. Mas a verdade é que o tempo passou e pouco se concretizou”, afirma.

Recentemente, dois troços do IP8 foram adjudicados: Santa Margarida do Sado / Ferreira do Alentejo e Ferreira / Beja. Os anúncios do Governo prometem a conclusão da ligação até Beja até 2026. Para Luís Melo, no entanto, o histórico de promessas falhadas deixa marcas.

“São mais de 60 milhões de euros em obras, mas se levarmos em conta o que é definido no Plano Rodoviário Nacional o essencial continua por fazer. Só as variantes de Figueira dos Cavaleiros e Beringel seguem os critérios técnicos de um itinerário principal. O resto é, na prática, uma repavimentação com pouca melhoria estrutural”, explica.

Segundo o engenheiro, o problema é mais profundo do que apenas as obras em curso. Trata-se de visão e de justiça territorial. “O tráfego atual não justifica uma autoestrada? Talvez. Mas uma via desta importância não se mede só em veículos. Mede-se em segurança, desenvolvimento, ligação internacional e coesão territorial. Beja é, a par de Portalegre, a única capital de distrito sem autoestrada. E não esquecer que o IP8 serve diretamente o aeroporto de Beja.”

Sobre as promessas feitas recentemente pelos governantes, Luís Melo mantém-se prudente. “Fala-se num pacote rodoviário de dois mil milhões de euros, e garantem que a ligação em perfil de autoestrada será feita. Mas já ouvimos coisas parecidas antes. Não me deixo entusiasmar com anúncios. Como costumo dizer: estou como São Tomé, ver para crer.”

Luís Melo deixa um alerta à região: “O pior que podemos fazer é continuar resignados. Nós, bejenses e alentejanos, temos de querer mais e exigir melhor. Temos de deixar para trás o discurso do ‘já está bom assim’. É preciso ambição. E precisamos de representantes políticos que não se contentem com uma fotografia ou uma ida a Lisboa. Precisamos de ação.”

O engenheiro termina a conversa com um desabafo: “Se não aproveitarmos agora, com os fundos do PRR a terminar, vamos ficar novamente a meio da ponte. E depois? Esperamos mais 20 anos por outra promessa?”

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