Os criadores de ovinos do concelho de Ourique vivem dias de angústia perante o aumento alarmante de mortes nos seus rebanhos, apesar das campanhas de vacinação contra a Língua Azul. Nas últimas semanas, dezenas de casos de animais com sintomas compatíveis com a doença foram reportados, terminando muitos deles em óbito.
À Rádio Pax, um produtor de Panoias, visivelmente consternado, relatou que em pouco mais de uma semana perdeu 14 ovelhas, num cenário que classifica como “um pesadelo”. “Ainda hoje veio aqui o serviço da ACOS e levava a carrinha atulhada de animais mortos”, desabafou, temendo que muitos mais venham a morrer, já que vários se encontram doentes.
O surto mais recente da Língua Azul, identificado em 2024 com o serotipo 3, levou as autoridades a recomendar a vacinação massiva de todos os animais. No entanto, a revolta dos produtores cresce com a constatação de que, mesmo após o cumprimento das orientações, a doença regressou com força. “Não é admissível aceitarem esta vacina sem os testes necessários para entrar no mercado nacional. Há quem ande a brincar com os animais, com a economia e com a nossa própria vida emocional”, acusa o mesmo criador, sublinhando o sofrimento de acompanhar a lenta agonia dos animais.
Os prejuízos económicos são já muito significativos: além das mortes, há fêmeas prenhas a abortar e outras impossibilitadas de reprodução, o que representa perdas de milhares de euros. “Andamos a gastar fortunas em antibióticos e anti-inflamatórios, recomendados pelos veterinários, mas os animais acabam por morrer. Sinto-me impotente, não há nenhuma entidade que nos ajude. É deixar morrer os animais…”, lamenta o produtor.
Segundo os criadores, até ao momento, as explicações das autoridades competentes têm sido “poucas ou nenhumas”. Estes empresários do mundo rural questionam mesmo a eficácia das vacinações e o futuro da atividade. “Agora vão recomendar outra vacina e nós vamos acreditar?”, interroga-se o agricultor, dando voz ao sentimento de incerteza que domina a comunidade.
Enquanto os rebanhos continuam a definhar, os produtores exigem respostas claras e medidas urgentes para travar a crise que ameaça a economia pecuária do Baixo Alentejo.