A crise no Lar de Garvão continua a provocar ondas de choque no Baixo Alentejo. Sérgio Delgado, vereador da CDU na Câmara Municipal de Castro Verde e arrendatário da referida estrutura residencial para idosos, reagiu publicamente à situação de ilegalidade do lar, apontando responsabilidades diretas à Segurança Social e anunciando, de forma inesperada, a sua demissão do cargo autárquico.
Em declarações citadas pelo Lidador Notícias, de Beja, Sérgio Delgado garantiu que a alegada ilegalidade do lar “decorre exclusivamente da não emissão da licença de funcionamento”, atribuindo a situação a “uma falha procedimental associada a um excesso de zelo burocrático”. O agora ex-vereador sublinhou ainda que a ausência de licença era do conhecimento da Segurança Social “há mais de um ano”, sem que, segundo afirma, tenham sido tomadas medidas eficazes para resolver o problema.
A atuação da Segurança Social, sobretudo na tarde e noite de domingo, foi duramente criticada. Sérgio Delgado lamentou que o organismo público “em vez de colaborar na procura de uma solução para a licença em falta, tenha preferido remeter-se ao silêncio, deixando o tempo passar”, até que os acontecimentos do fim de semana culminaram no encerramento imediato do lar e na remoção de todos os utentes.
O processo de retirada dos idosos, descrito como “abrupto e desumano”, terá decorrido sob exclusiva responsabilidade da Segurança Social. Segundo o relato, os utentes foram distribuídos por vários lares que, “subitamente, aparentavam ter vagas disponíveis”, numa operação que se prolongou até perto das 2h00 da madrugada de segunda-feira. Durante horas, os funcionários foram impedidos de deitar os idosos à hora habitual, obrigando-os a esperar longos períodos, alguns deles sem sequer compreender o que estava a acontecer.
Perante a gravidade da situação e as consequências políticas do caso, Sérgio Delgado anunciou a sua renúncia ao cargo de vereador da Câmara Municipal de Castro Verde, para o qual havia sido eleito pela CDU nas últimas eleições autárquicas. “Já tomei a decisão e agi em conformidade com o meu sistema de valores e a minha forma de estar na política”, afirmou, lembrando também o seu percurso enquanto antigo eleito da Assembleia Municipal de Vidigueira.
Este caso surge na sequência de um crime violento revelado em exclusivo pela Rádio Pax, no passado domingo, que abalou profundamente o concelho de Ourique. Numa noite considerada uma das mais negras da história recente da aldeia de Garvão, um idoso de 92 anos matou outro residente, de 96, com um ferro, ferindo gravemente mais dois idosos. O episódio levantou sérias suspeitas sobre o funcionamento da estrutura residencial e precipitou uma intervenção que agora gera forte polémica.
Enquanto a comoção persiste e as responsabilidades continuam a ser discutidas, Garvão acorda marcada por uma sucessão de acontecimentos dramáticos que colocam em causa o sistema de acompanhamento e fiscalização das respostas sociais para idosos na região.