Os restaurantes da cidade de Beja estão a passar por graves dificuldades, resultantes da pandemia da covid-19, que se arrasta no país há quase um ano.
Para já, fechar as portas não está nos planos, mas existem proprietários de estabelecimentos que admitem não saber “até quando vão conseguir aguentar esta tormenta”.
Nelson Cigarro, dono do café/ restaurante Dona Maria Deck situado no Jardim do Bacalhau, em Beja diz que estas são “situações que se têm vindo a agravar”.
“No ano passado, no primeiro confinamento era tudo novidade, tivemos de nos adaptar. Nessa altura estivemos confinados a 100 por cento, não trabalhámos. Este ano, com esta nova vaga da pandemia já nos adaptamos de uma forma diferente. Estamos a trabalhar em regime take away e com entregas ao domicílio”, refere.
Para o proprietário este “são tempos difíceis”, mas admite “temos de tentar fazer alguma coisa para salvaguardar os postos de trabalho, porque, no meu caso com 19 funcionários, a Segurança Social só me consegue pagar 70 por cento dos vencimentos, mas os outros 30 por cento são à minha responsabilidade, tal como os 11 por cento que eu tenho de pagar” à mesma entidade.
“Parece que não”, diz, “mas com tantos funcionários mais água e luz é complicado. Vamos esperar pelos apoios que foram anunciados e que até agora não vimos nada. Vamos esperar e tentar levar a água a bom porto”.
À adesão ao serviço de take away, “funciona mais ao fim de semana”, mas o espaço está a trabalhar todos os dias para “tentar fazer o melhor possível para que as pessoas tenham confiança em nós e as coisas voltem mais ou menos à normalidade. O serviço está a funcionar a 100 por cento durante a semana, à hora de almoço e ao jantar”, refere Nelson.
Neste momento, “optamos por só disponibilizar o menu com as pizzas, porque para funcionar com a carta toda tinha de ter no mínimo seis pessoas sempre a trabalhar só para take away e entregas ao domicílio. isso é insuportável para aquilo que se fatura nestes dias”.
“Assim, a disponibilizar só as pizzas consigo funcionar com dois ou três funcionários e não me sobe tanto a despesa ao final do mês. Com esta estratégia consigo trabalhar e opto por ter uma grande parte do pessoal em layoff”.
Segundo o dono, são feitas “entregas através das comidas.pt e através da” sua “viatura própria: desloco-me tanto na cidade, como nas aldeias em redor, para facilitar as pessoas e também, para conseguir fazer mais alguma coisa”.
“É impossível conseguir controlar tudo”, prossegue, “mas até agora ainda não tivemos nenhum caso de covid-19, porque adotamos todas as medidas de higiene”.
“No ano passado fechei portas durantes dois meses. Só nesse período obtive um prejuízo de 16 mil euros. Estar fechado é muito pesado tendo em conta a casa que é e o número de funcionários que tenho. Fechei 2020 com tudo em dia, mas com um prejuízo de 50 a 60 mil euros”.
Apesar das dificuldades, “fechar portas definitivamente é impensável, nem que tenhamos de trabalhar dia e noite. Isso está completamente fora de questão, porque tem de se respeitar o projeto que está aqui e as pessoas que trabalham comigo diariamente. Tudo farei para evitar essa situação. Nem sequer me passa tal coisa pela cabeça. Se tiver de ir ao banco fazer um empréstimo a longo prazo” irei.
“Há que fazer uma ginástica no dia-a-dia para que quando surgirem situações destas estarmos salvaguardados. Ninguém esperava. Estamos cá para levar sempre as coisas no bom sentido. Espero que as pessoas tenham consciência para que tudo volte à normalidade, porque coxo de uma perna ainda se anda, agora coxo das duas já não se consegue. Vai correr tudo bem, se Deus quiser”, conclui.
“Estamos todos numa situação complicada”, admite Jorge Serrano, dono da cafetaria- que também serve refeições- Miminho Doce.
“Fechar a porta não é nada bom, mas estar parado e sem trabalho ainda é muito pior”, admite, o proprietário do estabelecimento, que para além de café serve, também, um miniprato e uma sopa do dia”.
“O nosso forte” prossegue “é a cafetaria, por isso não se justifica estar abertos em regime take away com o miniprato”.
“Não está nos planos fechar a porta. Graças a Deus estou preparado para aguentar um mês ou dois, mas depois a recuperação vai ser difícil”.
À semelhança destes estabelecimentos, também, o restaurante A Esquina “já consumiu alguns dos recursos que haviam, agora tenta sobreviver, porque baixar os braços não está nos planos”, admite Maria de Jesus, proprietária.
A sorte é que “o gosto pelo que se faz tem falado mais alto, porque há dias que apetece deixar de lutar”.
“Para já temos conseguido aguentar todos os postos de trabalho, como somos uma casa familiar vem sempre uma ajudinha. Tenho duas pessoas a trabalhar: o empregado de mesa e uma cozinheira. O empregado de mesa vai, à partida entrar em layoff total e a ajudante de cozinha em layoff parcial”.
“Para manter a casa de pé, desde o início da pandemia que” Maria não tem folgas.: Trabalhei durante um ano, com apenas cinco dias de folga. Fechei no dia de Natal e tive de encerrar quatro dias para ir a dois funerais de familiares”, diz.
“Estou a esgotar todos os meus recursos e quero acreditar que não será preciso fechar portas, mas não descarto essa hipótese, a casa não é minha tenho de pagar renda, quando eu não conseguir ver nenhum horizonte terei de fechar. Não posso fazer dívidas para depois não as conseguir pagar”.
Posso dizer, que ainda estou a funcionar graças à “confiança que os fornecedores depositam em mim. Têm me ajudado muito e facilitado os pagamentos”.
“Gostava muito de apelar às pessoas para virem buscar uma refeição, porque preciso disto para sobreviver, mas ao mesmo tempo, trata-se de um caso de saúde pública, e ao estar a pedir às pessoas para saírem de casa e virem buscar comida vai em contrassenso daquilo que se pede que é ficar em casa”, conclui.