Hoje €1 vale menos do que na semana passada.
Quer dizer que a sua cotação baixou?
Pode acontecer que sim. Deixemos essa questão para outra altura.
O € de que falo é o que uso para ir comprar bens e serviços de que necessito para o meu estilo de vida. Este, por sua vez, depende da minha capacidade para comprar e, preferencialmente, poupar.
Com isto surgem três curvas de análise matemática: a da Oferta, a do Bem-estar e a da Poupança.
O que é a oferta? É o que o mercado tem para me oferecer; o resultado obtido graficamente entre o preço e a quantidade de determinado bem ou serviço. Acima e abaixo da linha está aquilo que se designa por preço do produtor (não vou agora entrar na formação do preço).
O resultado são os excedentes do consumidor e do produtor. O Excedente do consumidor é igual à diferença entre o valor para o comprador e a quantia que ele paga. O excedente do produtor é igual à quantia recebida por quem vende menos o custo de quem vende.
O Bem-estar é a soma dos dois excedentes. Quando há excedentes, em regra, há poupança; isto é, entramos numa fase em que somos capazes de não gastar todo o rendimento disponível. O Bem-estar é o objetivo da Economia.
Ouvimos com regularidade que os salários e as pensões não acompanham a inflação. Mas não ouvimos dizer o contrário quando há deflação. E já tivemos deflação e os salários e pensões não baixaram.
Mas como sabemos que há inflação (ou o contrário)?
O indicador mais representativo é o IPC – Índice de Preços no Consumidor.
Em março, este número índice subiu 5,3%, muito impulsionado pelo aumento de 19,8% dos produtos energéticos. Mas os produtos alimentares (7,2%) e os transportes (11%) também são responsáveis por esta escalada. E assim, o índice harmonizado ficou 5,5% mais alto; isto é, cerca de 2,5% acima do expectável. Nem bom nem mau face aos restantes parceiros da UE.
Então, a inflação é a subida generalizada dos preços. Pode acontecer também por causa dos excedentes de que falei. É isso; só há inflação porque há dinheiro. Há demasiada massa monetária em circulação. E esta massa monetária não tem de ser moeda física; aliás é, sobretudo, moeda escritural. Esse dinheiro não está distribuído; está concentrado em determinados setores da sociedade.
A economia é um estado de alma. Sobretudo um estado de alma. Se as sociedades sentirem motivação, a economia progride; se, pelo contrário, estiverem deprimidas, verifica-se uma recessão. Isto reflete-se nos mercados. Agitam-se ao mínimo espirro e acham que é uma pneumonia. Quem sofre são as classes médias nas quais se inclui o novo proletariado urbano. Os que pagam tudo.
Então – perguntarão – como se combate a inflação?
Rapidamente – terapia de choque – retira-se massa monetária de circulação. Como disse, só há inflação porque há demasiado dinheiro em circulação. Os preços sobem e as pessoas continuam a pagar.
Como se retira massa monetária de circulação?
Os salários (e as pensões) não se podem baixar mas podem não aumentar. O mercado não pode ser forçado a baixar preços mas podemos limitar os excedentes (tributações extraordinárias que desmotivem a tendência especulativa). Por fim, o Estado (que somos todos nós) deve reduzir as tributações indiretas na proporção da inflação para não ter excedentes por via do aumento dos preços (quanto mais altos forem os preços, mais o Estado arrecada.
Termino dizendo que as salas de espetáculos estão cheias, o canal HORECA está cheio, as horas de ponta e as vias nevrálgicas estão cheias de carros.
Boa Páscoa para todos.
António Nascimento
Técnico Superior do IEFP