Quando Passos Coelho teve de aplicar os cortes nos salários e pensões dos Portugueses, não sendo malévolo, demoníaco, nem louco, só o fez para equilibrar as contas públicas, e para cumprir o programa de reajustamento das Finanças Públicas, negociado anteriormente por Sócrates e pelo Governo Socialista. Aliás, todos fomos alertados pelo Ministro das Finanças da altura, Teixeira dos Santos, em que no princípio de Junho já dizia que o Estado no final desse mês não iria ter liquidez para pagar nem salários nem pensões, isto é, no fim de Junho não havia dinheiro para ninguém.
Passos Coelho governou 4 anos sempre com este estigma agarrado a si, isto é, de ter retirado cerca de 10% dos rendimentos aos Portugueses a seu belo prazer como falsamente a esquerda fez crer. Apostado em criar pontes e convergências principalmente com o PS para que Portugal saísse do Programa de Resgate ( e saiu ), Passos Coelho não valorizava as criticas sem bem que injustas, e lá seguiu o seu caminho. Ficou assim a marca como gravada a ferro, de uma austeridade de 10 %. Claro que foi brindado com greves umas atrás das outras, manifestações, uma delas com mais de 1 milhão de pessoas, e com a esquerda furiosa bramindo o slogan de “Recuperação de rendimentos, vencimentos e pensões”. Isto é, com muito pouca compreensão de muitos e vários e sectores da nossa sociedade.
Arredado da governação, com a geringonça em roda livre, Costa pôde aplicar aquilo que prometeu: a recuperação de rendimentos e pensões. Mas em silêncio, e com a concordância dos seus parceiros de coligação, lá ia o governo de Costa aplicando as famosas cativações, em todos os sectores, incluindo na Saúde, onde o investimento púbico quase levado a zero, tem colocado a descoberto um Estado frágil, moribundo e sem capacidade de funcionar e de responder às suas responsabilidades.
Após uma brilhante maioria absoluta, e livre do incómodo dos outros companheiros de 4 anos, eis que o chefe do governo aumenta em 0,9% a função pública, num ano em que a inflação chega aos 8 %. O que não é isto senão perda de rendimentos? E uma perda grande! Mas enquanto Passos Coelho dizia olhos nos olhos ao que vinha, António Costa, assobia para o lado, fala em aumentos de 20 %, em semanas de 4 dias de trabalho, tudo para desviar a atenção e criar expectativas que ele bem sabe que não cumprirá.
Mas parece que a tática até dá bom resultado pois além de umas greves sectoriais em Lisboa, o Pais está adormecido, aceitando com resignação e sem contestação, a triste sorte que se adivinha para muito breve.
Os portugueses nem são parvos nem estão enganados. Não me parece ser esta a questão. Mas parece que preferem a ilusão à realidade, quem lhes prometa a inatingível terra prometida, a quem os faça encarar a realidade de frente. É uma postura como outra qualquer, mas não me parece a mais avisada..
João Paulo Ramôa