Em política, o que parece é, mesmo que não seja. Estas eleições bipolarizaram-se como jamais me recordo, em duas ideias bem concretas, apesar de não corresponderem à verdade. Que existe uma facção social-democrata que considera a CDU como força previligiada de acordos, e uma outra facção que rejeita liminarmente esta opção, considerando a ligação aos socialistas como a mais natural. Longe vão os tempos em que o PSD vivia na procura da sua afirmação individual e não como muleta de alguém.
A globoesfera e as crónicas da opinião reforçam essa ideia. O debate, mesmo diminuido pela habitual cobardia do anonimato, está animado, e animam as conversas dos treinadores de bancada. Curiosamente, sente-se de uma forma muita clara que esse debate é suscitado e alimentado por pessoas que não são social-democratas. Que disputam e reclamam para a sua área política o nosso apoio, com o objecto único de chamar a si esse eleitorado, apenas com o intuíto de reforçar a sua tendência política, seja socialista seja comunista. É curioso também observar por parte dos social-democratas, o silêncio total nesse debate.
Bastava esse simples facto para fazer pensar o PSD, mas não. Já aqui fiz alguns alertas há uns meses atrás, sem que tivesse tido algum efeito prático na alteração da estratégia do PSD-Beja, mantendo-se este cego-surdo-mudo. E é essa figura de morto, que dá ânimo a que outras áreas políticas reclamem para si os despojos do PSD.
Porém aqui existe um grande equívoco.
O que está moribundo são as estruturas do PSD e não a sua base de apoio, que quando chamada a votar, se percebe muito bem, para onde se desloca, e onde deposita a sua confiança. Independentemente da orientação e opções das estruturas políticas.
Por isso, até é ridiculo assistir ao discurso dos comunistas, ao dizer que os social-democratas têm ou tiveram um acordo com os socialistas. Do mesmo modo que, além de rídiculo é contra-natura ouvir dizer pelos socialistas, que os social-democratas têm um acordo com os comunistas.
Para esta questão cair por terra, bastaria colocar esta simples pergunta: Quem é o PSD? As suas estruturas e representantes reduzidos a umas poucas dezenas de militantes? Claro que nao. É muitissímo mais do que isso, são milhares de cidadãos anónimos que votam convictamente nos ideais e interesses social-democratas.
O meu partido tem uma base de apoio que considero excepcional. É irreverente, não seguidista, pensa por si próprio e sabe muito bem fazer as suas opções. Relembro as eleiçoes autárquicas de 2009 em que, das três votações, autarquia, assembleia municipal e junta de freguesia, o PSD teve votaçoes completamente distintas, bem representativo da liberdade de opção, e do não seguidismo dos sociais-democratas de Beja.
Considerar que os votos social-democratas são cativos desta ou daquela figura, desta ou daquela estrutura, é um exercício de imbecilidade política e de uma arrogância patética. Por isso, mais do que ganhar, quem vencer estas eleições para a concelhia de Beja, deverá ter bem presente a necessidade de reacender a alma social-democrata em primeiro lugar, mas também saber interpretar os anseios e objectivos dos votantes. E não apenas o compadrio fechado de um punhado de dirigentes. Caso contrário, mais vale mandar pintar o edifício da sede que se encontra em estado inadimissível de degradação, e mudar de ares, pois além de ser-mos reduzidos a um punhado de auto-egos, a noite será de trevas longas e penosas, e o PSD-Beja será reduzido a uma micro-estrutura política sem qualquer utilidade.
João Paulo Ramôa