Saramago ensinou-nos que “é preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós”. No meu caso, a vida ter-me levado a sair de Beja, ajudou-me a perceber melhor aquela que será sempre a minha cidade, cujas ruas estão gravadas na minha história.
Dessarte, nestes anos em que vivo a cidade com uma distância próxima, em que não estou mas regresso regularmente, permitiram-me compreender melhor a nossa estranha ilha.
Se quisermos descrever Beja numa única palavra, acredito que autofágica será o melhor adjetivo para a narrar. Com efeito, esta é uma cidade onde nada acontece e tudo se passa, com exceção da maledicência constante que nos condena irremediavelmente à mediocridade.
Sufocados pela mais vil e abjeta politiquice e por uma imensidão de pequenos ódios privados e invejas públicas, toda e qualquer iniciativa que se realiza em beja é sumptuosamente criticada: desde a Ovibeja, o grande cartão de visita da região (que deveria ser um orgulho para todos os bejenses), às mais exíguas festinhas e feirinhas, há sempre uma voz tonta que se levanta para sujar com lama (e utilizo lama como metáfora, porquanto estas palavras são ouvidas por crianças) os seus organizadores, invariavelmente com insinuações que atacam a honra e o carácter daqueles, cada vez menos, ainda não desistiram.
Regresso amiúde aos poucos blogues que teimam em subsistir, leio alguns comentários nas redes sociais (ainda que cada vez menos, desde que me ensinaram que existe uma ferramenta fantástica chamada “não seguir”), folheio a imprensa regional, oiço os dislates nos cafés e invariavelmente sinto-me extasiado com a inteligência, a eloquência e a verticalidade moral destas extraordinárias personagens. Apenas me entristece, que estes egrégias pessoas não tenha a generosidade de levar o dito cujo do sofá e fazer algo pelo bem comum…
Hugo Lança
Professor Adjunto IPBeja